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Ter, Abr

destaques
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Este é um poema de tirar o fôlego de leitor musculoso, de suspender o juízo e abrir a porta das ideias.

Este poema transforma o espírito, transcendentaliza.

É gloriosamente metafísico.

Traz em si (e para leitor) desapego egoico.

Toca a própria eternidade um pouco. E um pouco de eternidade é ótimo. E muito.

Acho a suspensão do fôlego e exclusão do juízo elementos vitais a qualquer poema (absoluto).

Mas, onde está o poema, qual seu lócus?

O poema está no poeta, na obra de arte verbal escrita (não declinável), no mundo e no ‘’leitor’’, como um todo. São contextos de recepção, horizontes de fusão. E é único o poema, como a rosa. Só há a rosa perfeita e única (qualquer, só poeta sabe-o).

 

Ó vidas consumidas num átimo (nada ático) enfermo, inglório

de vaidade e desperdício (e consumismo narcísico)

num sítio de fé lucrática e cismas frias como cinzas esquecidas

pois a esperança do lucro move-me a dias absolutos.

Vivo da usura diária de comércio e artifício.

Há um rumor, porém, que se pressente a cada verbo.

A poesia agoniza, incinera a floresta

mais lenho para a fogueira das vaidades tragam.

Caem cânones como muros caem

agonizam os rijos anjos do desperdício.

Oro à inutilidade do luxo e creio na vida

onde haja sempre disponibilidades e bons vinhos.

Do meu amaro patrimônio e ávido (ou lírico)

e do acervo de meus meios-dias sem ócio morro

na defesa.

Há madames bêbadas de absinto e sábados

há comendas devoradas e nádegas de consulesas azuis na sala.

Nas esquinas do acaso há tâmaras há ratos

eflúvios de nojo e intestinos de chamas

(além de saudades moribundas da cidade amada).

Prédios que crepúsculos demoliram

edifícios de címbalos, podres bandas, êmbolos

turras de sábados à noite e beduínos ébrios

e bisnagas, além de seringas e bandagens, há

pacotes de primeiro socorro de ânsias represadas.

Ao tédio de bismuto e à amante acidental.

A chaminés hirsutas.

Ao que as palavras ainda não disseram

(ou poetas não escreveram)

às rupturas da pureza todas

ao que é porvir e incerteza

a alicerces sem futuro

a cofres arrombados e arcas secas

(de alianças parcas)

à madrugada de mim

(porque não é de prata minha alma).

E o sopro apenas pairou no corpo (e pousou no jarro)

da argila veio o espírito (que é de ágata)

é-me a alma anodizada.

Aços do verão despedaçaram vísceras da tarde

e a impotente noite nos aguarda.

Acetinado arco do teu seio onde repouso

ao redor do viço moro (com a acácia da axila)

do berço de relva do teu pentelho olho o gozo.

Jorro de seda líquida que é frêmito... e alma.

Trampus a nudez

toquei o encontro (das coxas)

(Capibaribe e Beberibe de gozo)

dedos perambulam no púbis

e pelos botões dos peitos se enrolam

à erma (macia e carnívora)

rosa vai a boca buscar

imortal sabor (de cárnea luz).

Murilo Gun

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