Há morrido o amor
que havia tanto em mim
que em mim tanto havia
amor que me fazia amar
como alfa de luz
me fazia a lua olhar
eu ver-me e vê-la em mim
velada ainda
mas a lembrança do corpo
não se apaga assim
a trégua do escuro
tem aval da treva
e a sombra não ama
a dor viva resiste
inutilmente em mim vive
a dor resistível (porém ampla)
galáxias em decúbito
begônias de agosto
imerso mar de tristeza
e avesso desvelo há em mim.
Deus era o pulmão do espaço
e sua respiração o cansaço do ser
luz estrebuchando, túneis degolados
tudo para sair da órbita do buraco negro
e da prisão do início a ver céu limpo.
Gases primordiais retornando
como pássaro à primavera sem ventre.
Hélices do sal
da veia da terra abertas ao ser
movem-se como vermes no cadáver.
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