O poema começa finito, relativo
situado, datado... e vai além
da caneta ou do teclado
(poeta absoluto é triste. E íngreme).
Poeta que inventa o que não cessa de ser
o que não teme o relativo
ou a fronteira, ou o limite falso (fácil
que é o mesmo)
que excele, excede até
que reste o absoluto.
No poema o infinito é pequeno
e a eternidade inútil.
O abstrato pulsa. Prenhe
do intestino concreto.
Da alcova da tumba
do penedo da bússola.
Através do reino malogrado desse mundo
o poeta segue (seu caminho escuso)
o homem fica do lado de cá do muro.
(Do homem emparedado na usura
não fica nem a sombra
ou a pedra do espírito).
As ovações abandonaram a página
a sintaxe fraqueja
o irracional flameja
o verbo é louco (como Freud o foi)
apelos desertaram
dádivas esmoreceram
os ângulos faliram
as vestais se despiram
os limbos não são mais brancos
(desde Baudelaire)
são mais autênticos os infernos
desde Rimbaud
a agonia mais precisa
mais erma a solidão
o absurdo mais presente
troqueus desmoronaram
iambos agora são grotescos
a liberdade da palavra vigora
no inciso do absoluto.