Vinícius de Moraes foi um dos brasileiros geniais do século XX. Poliglota desde cedo, intelectual de quatro costados, embaixador com carreira impetuosa,
simpático e conversador, poeta da melhor geração até hoje – a de 30, com Drummond, Cecília, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Vinícius marcaria época e triunfaria em qualquer profissão. No entanto, era visceralmente poeta. E detinha qualidades poético-românticas próprias da época: uisqueiro, mulherengo (casou 7 vezes), de inteligente e insinuante papo, cantor e compositor. Sobretudo, inimigo da solidão e amigo dos bares. Hospitalizado – e de certa forma grave, Vinícius conquistava as enfermeiras, saia do hospital à noite e voltava bêbado de manhazinha. Isso está documentado. Não podia ficar só. Perseguido pelos militares golpistas que detestavam a inteligência e queriam o povo burro e os intelectuais calados ou exilados, se não mortos, Vinícius abandonou a diplomacia. Graças a Deus.
O Brasil ganhou um compositor maior. Parcerias fez com Tom Jobim, Toquinho, Alaíde Costa, Baden Powell, Pixinguinha, Chico Buarque (Gente Humilde, música de Garoto), Francis Hime, Adoniran Barbosa, Edu Lobo, Moacir Santos, Carlos Lira, entre outros. Músicas: Lamento, Tem dó, Modinha, Bom dia tristeza, Chega de saudade, Só danço samba, Tudo o que é meu, Ela é carioca, Eu te amo, amor, Garota de Ipanema, Eu sei que vou te amar, Telecoteco, entre muitas.
Na poesia, Vinícius foi praticamente o primeiro modernista à la letre, foi quem mais aprofundou o versolibrismo, embora tenha interrompido logo essa vertente. Poemas como Receita de mulher e Porque hoje é sábado são sublimes.
No campo do soneto, foi ele quem melhor produziu poemas desse gênero. São verdadeiras obras primas dignas de Camões Lope de Vega e Gôngora, os três lumiares do soneto, com Quevedo. Jornalista e cronista primorosos, foi Vinícius, sobretudo, poeta e amante.
Ao chegar aos 100 anos, o nome, a marca Vinícius de Moraes brilha mais intensamente. Ele partilha da plêiade dos dez grandes escritores do Brasil no século XX. (VCA).
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