Musa de batatas
rodeadas de lacaios pálidos
eu te invoco!
Demônios de amido
duendes de quiabo
eu lhes imploro:
venham a esta mesa faminta
para um festa comunitária.
Ó dama untuosa
filha do cominho e da caçarola
baixa nesta ilustre terrina
cheia de crianças redondas
e sirva a ração
de sonhos ao poeta
e poemas a crianças sinceras.
Que todos venham festejar
jantar com Murilo
e seus amigos lendários
da Escola Conviver
e do catecismo sagrado.
Começa o banquete marcado
e eis que avança
para o prato mais alto
Sancho Pança de Palito
assustado com o garfo.
E a farra vai à frente
quando surge de repente
o Visconde de Cabidela
conversando alto potoca
com a Condessa de Cocada
à beira da panela.
De cabeça da mesa desponta
Marquês de Tripa Assada
que mastiga epítetos de cebola
e odes de canela picada
antes de beber gole
de acerola e vinagre.
E o cortejo de pratos raros
segue incessante:
10 bandejas de rimas bem passadas
sopa de acepipes e sonetos brancos
uma terrina de substantivos abstratos
verbos de beca e toga
dentro de um jarro roxo
adjetivos de cartola e gravata borboleta
advérbios de fraque e bigode torto.
E todos comem
até os móveis da sala
depois da salada.
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