O professor Admmauro Gommes sabe bem e me instruiu, a respeito do eu empírico, que difere do eu poeta.
A grande luta da vida literária – em prol de sua autonomia científica ou estética – é a que se desenrola no campo da página (e da alma), na liça dura, no prélio violento mesmo, com o eu pessoal (ou empírico) para dar cancha ao eu poético.
Como limitar, afinar, ou mesmo anular o eu empírico, como o fez VCA, que o evanesço de mim poeta, tudo a expensas do eu poético verdadeiro. Inclusive, A expensas é o título de uma coletânea de 250, 300 poemas elaborados em julho/agosto 2015. Exige disciplina e auto-sacrifício distinguir eus insolúveis.
No entanto, eus (díspares) nunca são sinceros (nem austeros) e não rimam com o mesmo ou com o outro.
No caso em que poeta titubeie (o que não é o caso VCA) e se sinta dividido ou ocupado por dois eus, o que configura caso de personalidade múltipla – e essa busca, por si mesma fajuta, não passando de uma farsa que aliena o poeta do poema –, está comprometida a unidade do poema (pela imultiplicidade do poeta). O inalcance da impessoalidade, em grau profundo, impossibilita o poema que honre a categoria.
É de se libertar do eu fingindo de outro e se tornar ninguém, qual Ulisses, para ser poeta.
A especialização estética do poeta que captura o seu eu lírico (como se captura a serotonina cerebral) é produtiva e seminal... e qualquer transtorno provoca sua desagregação ou desorganização, caso estenda-se para outros campos, além das artes, sociedade, ética, economia, política, sentimento, cotidiano etc, pois a poesia é o lugar onde a história é transcendida e não interpretada, instrumentalizada.
Já a multiplicidade, em termos exegéticos e de recepção variável do eu poético é indubitável e necessária (isto é, imprescindível).
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