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Qui, Abr

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Para Zizek, o superego que imperava na sociedade ocidental que pressionava pela qualidade das pessoas para ser bom cidadão,

cumpridor, respeitador, capaz de dar a vida pelo país etc, não existe mais, mudou. Aquilo não fume, beba ou diga palavra na vista do pai (mesmo que tenha 50 anos); peça a benção, não responda, não seja malcriado, respeite os mais velhos; preserve o hímen (morra mas não deixe que o arranquem, o hímen é um bem precioso, presente especial para seu marido, tipo sangria nupcial). Isso tudo, hoje acabou. O superego abrandou, deixou de ser autoritário, democratizou-se, é pós-moderno.

 

Nada de proibir desejos. Vamos, sim, incentivá-los, dispara o novo superego liberal, como o novo capitalismo.

Zizek acredita que isso é o reflexo de uma mudança da figura de um pai edípico, representando a autoridade, para um pai (superego) primitivo, obsceno, permissivo, cuja autoridade, na pós-modernidade, impõe não a norma mas sua transgressão.

Em resumo, para Zizek, a figura da autoridade edipiana não mais opera na sociedade atual, e que um “pai” primitivo obsceno governa em seu lugar (tomou as rédeas desde 1960 mais ou menos), exortando a todos a imitá-lo e... Gozar, satisfazer os desejos em detrimento de hostilizá-los, opondo resistências inúteis, inibi-lo. E Marta tinha razão: relaxe e goze!

Dispara Zizek: Hoje, em dia, a ordem das ideologias dominantes é o gozo, gozo geral, sexual, consumista, cosmético, capilar, modal, até mesmo o gozo espiritual de realizar-se a si mesma mesmo.

Ao invés de proibir a pessoa de saciar desejos imorais, o que era o papel anteriormente exercido pelo pai edípico, sob a forma do superego, Zizek observa que agora há uma pressão, um consentimento, mesmo um estímulo (coincidindo id e superego) para satisfação direta e imediata desses desejos, como se fosse o único caminho da felicidade. O gozo passou a ser obrigatória, moda, de bom gosto, familiar, positivo. Goze para ser, é o mote.

O desejo, hoje, passou a ser permitido. Antes, os desejos eram proibidos, recalcados, punidos, e precisavam lutar para serem aceitos, considerados, para obter direito de cidadania, no corpo e na alma, os desejos se esforçavam, buscavam brechas na legislação dura e inflexível do superego (que a eles , aos desejos, vigiava, reprimia, e massacrava): Os tabus eram incontáveis durante o regime do superego autoritário.

Mas veio a democratização dos desejos e o superego moderno baixou a guarda, aderiu, tornou-se incentivador de todos os desejos, pressionando para suas plenas satisfações.

Ó tempo, ó costumes! Quem diria. Com base nisso, Zizek argumenta que o desejo não mais gira em torno do inatingível e do proibido (sua árida seara anterior) e, portanto, no que está de fato ausente – o objeto de desejo guardado por um superego autoritário, proibitivo. O ego atual, com sua pressão para que gozemos ao máximo (consumamos o gozo como bolachas ou biscoitos de chocolate), força o desejo e seus objetivos de gratificação para curto-circuitos numa espiral implosiva de vício (reiteração goze, goze, goze). Para isso e por causa disso o objeto do desejo está sempre presente – e oferecido, nas ruas, vitrines, festas. Sua ausência evaporou-se.

E o mais interessante, segundo Zizek, é que é imperativo hoje consumir tudo, comprar, comer (e muito e tudo), transar muito e desde cedo (que o hímen vá às cucuias, diz a jovem aos 12, 13 anos, se muito). E se você não estiver fazendo tudo isso é um infeliz. Porém na realidade, e ninguém o diz, o que faz mesmo as pessoas infelizes, hoje, é a pressão, de que não se pode fugir, para que façamos mais, gozemos mais, consumamos mais, sempre novidades, celulares, roupas, modas, tiques, fazendo com que nos debrucemos no ímpeto do consumismo sem trégua. É isso que faz pessoas infelizes.

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Murilo Gun

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