Corre escuma, nau escoa
em ímpetos e pulsões úmidas
popa golpeada por côncavas ondas
quilha apunhalada por octaédricas águas
em fúria basta
homens acossados por náufragas almas
mortal hálito de fera morde
boca enorme da noite
ouço tornozelo de Aquiles despedaçando-se
para regozijo asiático
lambe restinga resto de sangue aqueu
que crepúsculo coagula em fatias de pérola
e a tarde melancólica perpetra a história
aqui onde rastejam noites
onde às noites desejo sagra-se
erguem-se odes e estigmas
à memória infrutífera de Átis
e um lívido grito corta a escuma pálida
(mar separa-se em duas maçãs vermelhas e vastas ou astecas)
o trêmulo altar das ondas crepita do incêndio da incerteza
tudo até o tempo torna-se água ou opaco
até o azul triunfo da morte ou do topázio.
Até que aporte no cais podre escuna da morte.
À incauta fortuna.
Aos manes inconfessáveis.
Com ardilosas rações de imagens
poema ceva palavras.
Pandora abre odre imprudente.
No jardim de asfódelos colho pétalas de sombra.
Gnomos de Minerva sepulcros preserva.
Riquezas são cegas.
Às profundezas inconstantes das estrelas.
E do cérebro.
Vaidade, falsa moeda, fama vã rima
com pão de ilusão.
Décadas de amanhecer não devolvem
a claridade de um átimo de teu rosto
perdido no escaninho das horas.
Das trilhas da vida
e de cruéis encruzilhadas assisti
à derrota de minhas próprias ilusões
ao formidável fracasso dos sentimentos.
Fui ao enterro das minhas quimeras todas
vi cair o sopro e vi a ruína do rosto
(a cútis desmorona pouco a pouco
rapidamente. A cada dia cai um pouco da máscara
também).
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