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(DA HORA DO ÂNGELUS DE UM ADRO DE 2000)

ao cruel abril da página

Vocábulos de cavalo (e ternura) me chegaram

à boca incompreendida (ou selvagem)

esperei na página urgente vertigem

(deparei-me com paredes incompreensíveis)

aguardei na página montagem prosodial

vórtices da sintaxe em riste

até mesmo o suicídio dos sintagmas graves

espasmódicos paradigmas em delírio

expus a nu o pensamento (vesti de som emoção)

rol louco das palavras exibi à alma

esperei paciência e tempo trespassá-los

seu alfanje selvagem confrontado

ante fervor silábico da boca

ante sinfonia feroz e branca dos dentes

ante mastigação mística dos pecados

perdão caudaloso ouvi

a saliva de Deus umedecendo o espírito

inapropriado dos homens

ante deglutição do poema final

senti se irmanarem tormentos

decepções de mãos dadas como cônjuges

dores comungadas fora dos domingos

especulações próprias das diatribes de latrina

estrofes abortando no berço da lauda

colmeias crucificadas no próprio mal

morte ainda respirando

livros inacabados na caixa de lixo das editoras finas

cruzes do descaminho edificadas

............................................................................

............................................................................

............................................................................

dados desconstruídos com graça

prazeres indomados e felinos

e adjetivos em triunfo pleno

os dias acelerados como pulsos

à pulsão da morte noturna expostos

(até os recobrir impiedosa pátina

revelá-los os ossos das cinzas de março).

 

E continuaram a nitrir

cavalos dos vocábulos.

 

(PS) Para a leitora completar os três versos vazios.

2007/2008

{jcomments on}

Murilo Gun

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