Grito de pedra, unguento
de aço e musgo: como o gozo.
Pedra, grito, muro, uivo
musgo grávido, messe
e unção de sêmen vivo.
Hortos frios, além do corpo.
Nada há entre poema
e o que poeta tenha a dizer.
Entre poesia e querer dizer...
A caverna ou urna platônica
de ideia inacessível e essencial
é o lugar da poesia, sítio
onde poeta beba a verdade
poética maior, voraz, veraz.
Quando você (leitora)
e palavra não se entendem
é que o mundo começa.
Começa a modernidade, o dia real.
Retire, extraia, puxe da forma
das palavras os temas do romance.
As potências das palavras conflagradas
se expõem como fratura
na página de que leitor é náusea.
É na lauda - nunca no laudo
que as harmonias do verbo
se tecem e expande a mente.
Harmonias possíveis ou não.
Descrer da poesia é ir a ela.
Na verdade e na realidade
aparentemente vitais reside
o mistério da palavra.
A modernidade é morta.
Daí, vem a seiva que acorda a veia poética.
O sumo que pulsa na página.
Pã ainda não morreu, mas
flores e florestas perecem.
Se esse texto não origem
palpável ou não, se
isso não é um romance
se todos os possíveis
estão impassíveis
se Pã se demorou num mito grego
e não é verdade humana
se um rumor branco e grave
arranha o céu da página
página que é do leitor
e conserva sua verdade...
leia mais adiante.
Penetre o romance
Isso não é um romance.
Se isso não é um romance...
dê outro nome.
Porque o texto nasceu
inominado e numinoso.
Quando homem e palavra
desentendem-se
desse desentendido crucial vem
o verbo na forma que a página receba.
E o que pretendeu o texto
não dizer claramente
é o pensamento do leitor
verdadeiro, solene ou não.
Hermética é a palavra
e o mundo é hiperhermético.
Só leitor é verdadeiro, existe
nesse instante (da
página 22). (A ser).
A modernidade é apocalíptica.
Como o poema é a parapocalíptico
na forma e no fundo da palavra.
Como a forma é apocalíptica
na poesia desse romance
que não parece ser.
Romance apocaliptical.
A falência política do homem
sitia, isola, desfavorece e enfraquece a poesia.
A frágil totalidade sofre.
A dispersão enlouquece.
Olhe-se, leitora, a seu redor...
enrede-se na teia severa
de suas circunstâncias e incircunstâncias... e...
leia Rilke. Enrilkeça-se assim.
Grandeza e dor.
Esplendor morto.
Deus deserto. Não morto, ainda.
Se tudo é nada, comece dele.
Se Deus não há, não é...
tudo vale nada.
No céu vazio, pulsa lua cúbica.
A modernidade da morte
é séria. Exata...
O moderno são as cinzas.
O pó. A sede. O vão.
Os últimos dados são inexatos.
Como cubos ao quadrado.
Soma de nadas o homem.
Noves foras nada o homem vivo
sob céu de pedra vagarosa
lenta rosas a morrer do trânsito.
Até quando imprestáveis
cruzes de cinza ergueres
entre as bordas irrespiráveis
e os abismos imprescritíveis
da nova e cinzenta ressurreição.
A história disso que
não é romance se repete.
Cristo se crucifica a cada
hino, ano, onde, quando.