Sempre plantei joio
e... sempre colhi joio
sem medo ou ficta perspectiva
fui fiel à agricultura do meu espírito
vândalo – e nu
com apuro e candura
adubei com pátina a alma, preparei
com extrema diligência (e pasmo aberto)
e onírica agronomia intensa
o terreno da messe daninha
que me espreita o espírito
joeirei joio a vida toda
por toda minha vital eternidade
joeirei joio (fino, vítreo, camiliano, apto)
nada de trigo banal... e comestível
intestinal
trigo apenas nutricional
e crístico como peixe
jamais.
Poeta esculpe com líquidas palavras
reflexos de nuvens e sombras de nimbos
corpúsculos de luz e fluxos de ondas
formas de águas pontiagudas
(que Tales inventou num poço de estrelas)
formas derramando-se
como astros dos olhos do céu
irisados mosaicos da pupila do cosmo
pontilhado de gasosos buracos negros
e íntegros
formas de água estagnando-se
bilhas de sedes brilhosas formatando
jorros de palavras (catadupas e vórtices de vocábulos)
águas assimétricas
refratando nenúfares
que pilharam fôlego de Ofélia
em suma: esculturas poéticas
de vertiginosas águas em voragem líquida
águas cintilando foragidas das estrelas.
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