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Qua, Abr

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Súbito estanco esta crônica, que manuscrevo de minha escrivaninha de cedro do Mosteiro

(após noite irmanada, vinho e amizade como brindes, nas mesas do pub íntimo DATERRA) para sentir no rosto e na alma frio cálido (e noturno) penetrar janela aberta, a dentro, e defronte ver vulto das folhas de bananeira meu olhar deslumbrando-se ante relevo mineral das colinas de Garanhuns. A propósito, uma jia, entre a bananeira noturna, me lembrou um haicai de Bashô:

 

“Velho tanque vive só

do som da água ondulando

ainda do salto da rã”.

Nota: Este poema do charco (ou poça ou tanque) de Bashô, com mais de duas mil versões no sec. 20 é um milagre da palavra poética. Arriscadamente intentei a duas mil e uma versão, que exibo acima. Mátsuo Múnefusa (1644/1694) adotou o apelido de Bashô (que significa bananeira).

E volto à tona, com os vapores do vinho ainda vivos em meu cérebro apinhado de ébrios neurônios em festa vinha, para concluí-la (à crônica do crepúsculo), dizendo: Garanhuns é meu hábito e minha verdade agora. Meu tugúrio e minha certeza (do fim da vida, as certezas são viris). Meu antro, catre, e minha filosofia. Novo ardor de meu espírito.

Esmagado de emoção, fecho a crônica (de ouro) de minha cela (cela com cilício e de silêncio, que é o cereal da alma) do Mosteiro de São Bento, augurando a leitor, não só a boa, porém a lírica comunhão com a Roma Agrestina, Cidade das Sete Colinas, a mais alta, renhida e intelectual das cidades de Pernambuco (soberana do Agreste).

Ainda embriagado da beleza de Garanhuns, da natureza, do poente das colinas, do crepúsculo mais alto.

Escrito à luz do crepúsculo de Garanhuns e possuído do ângelus vindo da matriz, ouço suas cores, seu buquê de espectros, bacia do ocaso e me renasço, me reluz o ímpio (o denodo multiplica) de enfrentar a noite formosa e fria – com seus afrodisíacos rumores a fazer o amanhecer mais divino.

Da avenida Santo Antônio ouço límpido e sônico ângelus, após a luz avassaladora do crepúsculo ferir-me olhos ávidos da tarde que sou.

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Murilo Gun

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