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Qui, Abr

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A arte literária (ou ação poética), não como reflexo da vida ou do tempo, não como função do sentimento ou ornamentação do ego ou retórica do cotidiano.

Como expressão do ser. Como atividade independente do espírito, algo que faz ou escreve sua própria história. Algo ou tudo ditado pelo id contra o ego (geralmente idiota alienado, reificado). Só ditame do id é autêntico, confiável, puro ou espúrio. A dita crítica literária escorrega por presumir, partir da consideração ou circunstância, adotar a premissa (falsa) de que há um elemento de progresso linear na poética (desde Aristóteles). Uma continuidade sagrada. Nada mais longe da realidade verdadeira. A evolução no campo da poética é cíclica. E mescla estilos (vide Merquior), amálgama que é um fato crítico vital (e viral).

 

Falsamente, eu mesmo – VCA – errando por anos, compartilhava que, refletindo o estado de coisas, a turbulência, o desencontro, a agitação e a instabilidade política do Brasil, vividos por mim, a partir de Juscelino. De Getúlio, aos 8 anos, lembro papai (Cláudio Corrêa de Araújo) gritando na calçada – junto à janela do quarto onde dormia, em Vertentes-PE: Getúlio morreu, bala no coração. Já aos 15 anos, quando participava da luta política, criador do Movimento Nacionalista de Vertentes, soube que a bala que Getúlio injetou (ou projetou) no próprio peito atrasou por 10 anos o golpe de 64 – que iria ocorrer em 1954. Era a ideologia feroz em ação: parar a evolução política do Brasil, suspender a continuidade democrática e estancar o avanço político. Se não superaríamos em poucas décadas os Estados Unidos, no plano econômico.

Parar o avanço, econômico do Brasil era o projeto geopolítico que os  generais, incautos ou não, brasileiros fizeram, cumpriram, realizaram com eficiência.

De 1930 a 1985 (55 anos) ou de 1930 a 2002 (72 anos), tivemos muito pouca convivência democrática. Em 55 anos, sem contar Dutra, de participação civil no poder: algum tempo turbulento de Getúlio, os anos JK cheios de arapongas e Aragarças, e os 2 anos e pouco de Jango sucedendo a Jânio, descontando a ficção do parlamentarismo, o período nada democrático e indireto de Sarney (6 anos), totalizando tivemos, em 72 anos, 30 anos de meia democracia só. Quase nada que resultou na situação nojenta atual (outubro de 2015).

Então, julgava que o baixo nível da poesia brasileira resultava ou refletia essa falsa democracia, esse tempo político instável e perverso (trapo de horas).

Exatamente o contrário. A poesia – como arte superior do espírito – por sua penúria – criava ou condicionava esse atraso. A relação, entre a arte e sociedade ou meio, provocava um desconcerto político-social. Ela não é resultante, porém instigadora das condições político – psicológicas que caracterizam o meio.

A modificação política que depende da transformação do pensamento, a decisiva atitude política (mesmo a revolução do pensamento político), têm por efeito a criação das condições objetivas e subjetivas para transformar o estado político brasileiro (nas duas acepções de estado, situação e aparato ou aparelho).

O motor da civilização, em termos gerais, é a arte. A fraca ou frágil arte condiciona o atraso cultural, e não o contrário. Por isso, por sermos ainda posneoparnasianos, não temos, nem teremos um prêmio nobel de literatura.

A sintaxe imobilizada (ou sua suspensão, como no golpe de 1964) estraçalha as relações políticas e idiotiza o eleitor e leitor.

A lírica, essa invenção grega atravessa o tempo e energiza o complexo poético, mas a ignorância lírica (o reverso) desioniza, desassocia, tampa, estanca, burla, mascara, sepulta, disfarça e desfranqueia o motor e a potência do pensamento. In casu, Brasil.

A energia litero-quântica que deriva e emana dum poema absoluto (bum) é espantosa. E não se expande por não encontrar espaço mental adequado no suficiente reino da mediocridade literária e anacrônica situação penurial da infeliz poesia brasileira d’hoje (e sempre?). Não há horizonte discernível para melhorá-la, nem ao mínimo.

A desuniformidade e a assimetria, a oximoração, o predomínio do ambíguo de braços com a complexidade fragmentária integral, bem como a experiência da época, são pontos basilares e alicerces da poesia absoluta. Que estão longe da pétrea insensibilidade do brasileiro para poesia neoposmoderna.

Tudo isso é posto a panos limpos, com exatidão e percuciência críticas, pelo professor Admmauro Gommes, neste livro Teoria da Poesia Absoluta, um marco da crítica literária brasileira, desde que apresenta um novo e definitivo movimento que se insere abruptamente no seio meio mofo da poesia brasileira para torna-lo bem ereto.

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Murilo Gun

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