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Ter, Abr

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            Por que um poema nos dá prazer, nos proporciona êxtase e viagem, embora destituído de mínima utilidade? Já produzi um longo ensaio sobre tal intitulado POESIA INÚTIL E NECESSÀRIA.

            Arrisco dizendo que um poema novo, abrangente, abstrato, de vasto âmbito, absoluto aumenta e muito a utilização da vida, porque sai do estreito nível do déjà vi, do já dito, do repetitivo, da simploriedade, que faz cochilar os neurônios, de tão óbvios que é (ou seja sempre).

            Candelabro, querubim, menorá, estrela escura, abismo alto, beijo salgado, dúvida ínvia, certeza inexata, tudo o que seja de sintagma novo (ou palavras inusuais) incita o cérebro, cria uma necessidade mental de ir adiante, fica martelando na mente... e dilata o ser.

            A ousadia poética amplia o escopo do cérebro – como qualquer coisa extravagante, fora da rotina – e nos faz pensar fora da caixa (ver Murilo Gun).

            O poema absoluto estabelece relações de amizade matemática entre o leitor e o poema.

            O avanço da pintura cubista (Picasso, Braque, Dali) despertou um interesse universal pela estrutura e pela forma (da obra poética em especial).

            A apreciação, o deguste da forma cubista, expressionista, abstrata, nas artes plásticas e na poética (ou em romances como Ulisses, de Joyce ou A imortalidade, Kundera, ou Grande sertão veredas, Rosa) é inerente ao pensamento de nosso tempo (que contrariou o de épocas anteriores ao século XX).

            É o domínio da forma significativa, o reino conotativo, a dominância do porvindo a ação especulativa com valor de ganho intelectual, algo que é próprio e dinamizador da atividade e inteligência humanas. Novo. E o novo assusta. E muito.

            Pode-se, sim, prescindir das técnicas nas artes em geral. A técnica é um limite... e a arte ilimitada. A técnica é breve, a arte eterna.

            A unidade de ação e propósito na poesia absoluto cria a forma. E cada poema tende a deter uma forma, é vital a cada poema (novo) deter sua própria forma. Os de Augusto dos Anjos apresentavam esse caráter, embora ele iludisse ou utilizasse a astúcia de esconder a forma nova na velha. Assim ele deu aos seus poemas a imagem de uma época que ia ainda existir: a nossa. E assim unificou presente e futuro.

            Dar forma a tudo o que seja é a marca real da modernidade.19.10.2015

 

 

Murilo Gun

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