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Qui, Abr

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Essa busca do sentido perdido, que a poesia absoluta procura, como a um graal da palavra, tem por propósito e objetivo vital entranhar ou dificultar o sentido aparente, claro, insofismável,

o sentido fácil dado a priori pelo ‘’poeta’’ para agrado ao leitor, pelo poeta que ‘’constrói’’ o poema com a condição de doar sentido que satisfaça leitor elementar, algo composto (que diz ser poema, mas não é) com palavras meridianas que possibilitem o pleno, direto e incontestável entendimento rápido e definitivo, contendo lição de amor, moral, etc. Ou recado (político ou ideológico, social, sentimental),  enfim a ‘’mensagem’’, pois a fidelidade do poema relativo é conduzir lição, é veicular mensagem.  

            O sentido (no caso do poema absoluto) deve ser desafiador à mente do leitor, deve ser complexo ou no mínimo próximo (ou imperfeito).

            Uma poesia prenhe de sentidos imperfeitos, aproximados, plena de deslocamentos semânticos nada ortodoxos, acasalando substantivos a adjetivos estranhos à índole de tal cópula de palavras, totalmente mesmo incompatíveis, construções impróprias, inusitadas, ambíguas, non sense, uma tal poesia é a absoluta. A que cria a reflexão, atordoa, desconforta, e leva à luta hermenêutica leitor, retirando-o do sofá, do conforto, da zona de facílimo entendimento a que se acostumara, ao longo dos cem anos parnasianos da (velha) poesia brasileira. A PA pretende despertar do sono dogmático o leitor brasileiro.

            Tal situação de anacronismo poético empobrece a poesia em geral, desde que ela poderia ser mais rica literariamente (para a mente) e não é por efeito da superficialidade que a reveste. Somos ainda condoreiros, de pele romântica, parnasianos, sonectados aos velhos e reiterados e repetitivos padrões ensinado copiosamente na ‘’escola’’ com o pomposo título de versificação, isto é, como versificar um texto em prosa para facilitar a compreensão do leitor (ou parafraseá-la ou figurá-la mais compreensivamente). Tudo balela, velhismos, desepocalidades gratuitas e extremas.

            A poesia não deve refletir emoções literais, porém refratá-las, transformá-las. Projetar a inerente individualidade do autor, algo que, via leitor, capte o interior da mente humana – e nunca a posição sentimental, dogmática, ideológica, pessoal de alguém que se diga ‘’poeta’’ porque é bonito e socialmente correto dizê-lo.

            A poesia absoluta é um porto de chegada, não de partida. Por baixo, no íntimo da palavra, está o poema, não na superfície de um texto, externamente, ostentando conteúdo fácil de fisgar para que o leitor diga: entendi... e o poeta fique feliz, pois a mensagem foi dada e recebida. Daí, que costumo dizer: quem entenda meu poema me derrota, pois não passo recibo de mensaginha.

            O espaço poético (vide Blanchot) é tipo selva dantesca, algo complexo, nada prosaico, e o espaço literário brasileiro é paupérrimo. No campo poético, uma sílaba a mais (tal qual aquele centímetro de Marta Rocha) quebra o poema (o pé do verso)... e ele não presta, tá errado. Errado?!

            O processo ou método de reescritura poética implica em não produzir um espaço semelhante (ao em que imerge há tanto a poética brasileira – o espaço posneoparnasiano), mas um espaço, um discurso, um texto diferentes, que fujam do ultrapassado para o ultrafuturo poéticos.

            Admmauro Gommes, Marcondes Torres Calazans, professores da FAMASUL entre outros, teorizaram sobre ultrafuturo, ultrafuturismo e mesmo esboçaram um manifesto (o primeiro?) do ultrafuturismo poético ou literário. Ver debate no blog professordeliteratura.

            O texto poético constitui um amálgama de forma e sentido criativos, no sentido que Murilo Gun estabeleceu para criatividade, e carrega um projeto de totalidade complexa que excede quaisquer limites estritamente textuais, no sentido discursivo comum ou no aspecto de neoparnasianidade, para dotar-se de uma condição de ultrapassamento e superação dialéticas incomensuráveis (ao menos pelas regras de medição silábica e confusão de sons vocais e finais simétricas).

           

Murilo Gun

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