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Não há na poesia moderna lugar para utilização artificial de símbolos (ou extração simbólica, como na escola simbolista). O símbolo moderno deve ser vivido, vivenciado, experimentado (virtualmente ou de vera).

                Amor, fé, guerra, êxtase, gozo, pureza, mácula, víbora, Deus, Rimbaud, Francisco (o Papa) criam em nós situações de simbologia, configurações tais em nossa alma que se ternam crus símbolos. Vêm de uma anelo de transcendência. Ou de sua mesma impossibilidade vital. E brota como essência poética. São na realidade verazes produtos do intelecto, que, no poeta absoluto, é bastante ativo, vital, e nunca retórico, desbeirando o erudito.

                A poesia, em suma, em síntese, não passa de um monólogo do id, em que o ego quando interfere desgraça. Por isso se há presença no poema de alguém – em especial o tal poeta, o desastre está feito. É comemorar ou rasgar. Muitos dizem: salute, poema. Errado.

                Se tal poeta “dramático”, egoico romântico, fosse assessorado – como o sou algum momento, por Royal Salute, o resultado era outro, a coisa absoluta pegava.

                O personagem no poema é velado (pois não é romance em verso como muito se fez), nunca é o autor, é uma terceira pessoa: quem fala é o ID.

                Fogo e água protagonizam minha poesia. Ambos são míticos e místicos. Simbólicos e vitais à vida, ao mundo, ao ser, à sociedade: luz e sede, odre de  escuridão, vaso de alvorada, tundra de claridade.

                São matérias elementais, meio etéreas, reais, vasos de eleição da veia onde flui lento dilúvio afogueado, chamas benditas e caladas entocam a alma. O espírito é líquido. E gozoso como um cavalo. Os matizes do fogo somente encontram paralelo nas nuances da água. Tais paradeiros servem ao poema.

                Volto ao raciocínio inicial do simbolismo arrancado da vivência – portanto histórico e pessoal, para abordar a questão da ahistoriedade do símbolo (místico) em que é radical a originalidade do símbolo que se apresenta diretamente ao espírito, como é o caso do símbolo em São João da Cruz da “noite escura da alma”. (Um dos poemas decisivos na minha vida, lida a obra sanjuanina em 1985).

                O poema (em mim) portanto é a proliferação de símbolos a partir da provocação de um objeto (nunca jamais de uma situação emocional), da qual prole brota imagem nova, inédita, sintagma antes nunca composto. Faz-se o novo.

Murilo Gun

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