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Qui, Abr

destaques
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Rostos arruinados, pavilhões enfermos

grades delirando, asilos velhos, velhos puídos

caindo aos pedaços pobres: a vida inválida.

Fiz faxina no cérebro

(como Dilma nos ministros estradeiros)

tirei tudo o que não prestava

excessos da bagagem retórica

tudo que arruinasse o texto da vida

e pus (todo o fel e panarício

administrativo federal de meu miolo)

nauseabundo unguento no papel

em forma de prosa ou vômito.

 

De mulher para mulher:

silicone seio

bunda turbine e pronto.

Haja macho a rondar-te o corpo

amaravilhado, intenso

como urubu a cadáver novo.

 

Todos os pactos do ocaso cumpro

detidamente.

 

Códigos fervilhando menoscabo.

 

Os intestinos do labirinto penetro

e seus líbios (mordo com mandíbula de pedra)

a prata ferida de seus meandros)

seus dentes de sombra adentro

impune às claras.

 

 Do estribo cerâmico dos búzios extraio

Conchas de canções e celofane de musgo

Combustíveis profundos, partituras

De eras paridas, grafites ecumênicos

E dias incendiados de duradoura sombra.

 

Na treva crua, na terna infiel

cravo meu nome, minha anônima sina

do hálito repulsivo e distante das estrelas

(me) alimento (o poema).

 

Rondam-me dúbias verdades, ordens de discórdia, pomos entristecidos, teias oblongas, cavilosas quelíceras encinerações do suores, lágrimas sobre ácidos, máscaras derramando-se jorro de rios cativos encapsulados nas pálpebras do absurdo correm como cavalos nos disparados paramos

Jarro de rijas horas, ramalhetes de crônidas mulheres nas retinas do tempo, esse outro rio do trânsito das veias, encerradas devotas horas peninsulares, messes de instantes sem ventre.

 

Vastam-me, opróbrios e astúcias esferas ubíquas, purgatórios brincos, sensibilidades úmidas me seivam anseios de naufrágios, idealidades turvas, comícios e tundras

insultam-me.

 

 

Orne-me de desventuras, apegos, gozos inúteis

seminários óbvios, mórbidos dias, tenazes de sílabas

bílis e óblos de rapaces carontes

destroçando-me a alma raízes impotentes.

 

 

Ato-me a ti sem peias ou duradouras sereias, mastros

recolho na alma, amarram-me certezas, visões iluminanem os olhos

                        encantam-me o silêncio e a nudez que me dás.

 

 

                        No meio do caminho desta vida selva

e escura concedo o rosto, à átimo que o assalte

à pátina que o contemple como puma no limiar da garganta

                        nas dádivas

                        de minhas retinas fatigadas encontro-me

supremo e puro serviçal, das musas e do assombro.

 

 

                        No meio da vida o caminho salva (margem do meio)

                        A senda palmilhada pela palavra

                        (As panteras dadivosas de tua alma

                        os linces habitados por teus olhos

                        engrenados na página)

o amotinado verso que da pena salta, a rebelada tinta

que assalta a lauda (e cria a mancha da imaginação)

                        o espírito da palavra congregam-se no poema.

 

                        O rosto lego a quem lamente ou encante a quem o seduza ou mascare como equimose ou nódoa lenta

                        que o ácido da hora comemora.

A quem o modele ou torture

                        com perícia de silicone e fácil alicate.

 

 

                                   Concedo meu rosto ao pássaro ou à agua

                                   ao porvir da cútis (que começa na botulina).

Ao tempo lavrador, ao sulco das horas, ao trânsito dedico

e a anjos violados oferto o rosto mudo e casto.

 

 

                                   Ao cansaço não o nego (o rosto)

nem ao faminto remorso que esfaqueia lembranças

dilacera peras, exibe desesperos, macias maçãs do peito amasso

e tudo que acosse o rosto nas duvidosas e mundanas manhã

                                   da vida dedicada ao ofício de não ser.

 

 

                                   Recuso o rosto a gesto que Albergue a morte. No meio do caminho desta vida selva servada treva

nego o rosto e a pedra. Ao jângal (e dunas moventes)

                                   concedo a alma íntegra.

 

 

                                   Me dispo das ervas, imerjo

nas celas, vórtices, sumos das águas-mães liberto.

 

 

 

Vital Corrêa de Araújo

 

Murilo Gun

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