Maculadamente limpo
(cheio de mácula desconsagrada)
pleno de ovelhas de estrelas é o poema vital
antimecânico par excellence
não gregário, noturno
incompreensível (por natureza e definição)
meio absurdo, capaz de abominação
passível de axiomatizar-se de súbito
sem freios que o definhem
espalhafatoso e vermelho
impiedoso com leitor e inescrutável
é o poema vital (que sempre será).
A Vital e sua poesia desautomática
amecânica (embora anêmica e transitiva)
ambiambígua, detratável
dolicoféfala e iconoclasta crua
desacatante, desfibrada, invulnerável
(antipoética e transgeométrica)
indesencandecente, desarvorada e sem voragem
tão ... adjetiva ... não leio.
A não ser num pub íntimo
da rua da Glória (472) numa tarde
no bafurinho de um happy-hour
(com dose de single uísque e cerveja pálida)
o papo bêbado como o barco de Rimbaud
em torno cercado do nada da vida
da non-existence radical (meio que solipsista)
cruamente como um trago de vida.