Nas margens das horas
debruçada sobre amêndoas
a sombra dos gasômetro se estende
sobre os últimos hexágonos da água
tomba sobre os tardios polígonos da tarde
ao pé do crepúsculo se espalha
murmúrio de mármore
e relógios sós expõem
aos passantes suas catracas secretas e úmidas
(seus sinos inescrutáveis
caudalosos e miúdos, abomináveis).
Se estende sobre o rosto da noite
se debruça sobre a textura da palavra âmbar
a sombra do gasômetro.
Sedes desertas recolho
a meu odre de sombras saciadas
a minha bacia de deslembranças insanáveis
desejos de água e de gumes agudos herdei
demolidos anelos, sombras de domingos herdei
oásis bebi de teus olhos esquerdos
esbeltos e anoitecidos que herdei
retirei sede da boca dos poetas
dos olhos estrelas carnívoras.