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VCA

Poeta (poeta) tem ânsia de absoluto e despreza todo o relativo do verso (eleito há mais de 100 anos, como padrão final de poesia).

Aquele lida como o hiperverso perversamente, isto é, torna fulo, raivoso, inquieto, contrário leitor fácil, que queira tudo de sentido imediatamente bem exposto, indubitável sentido meridiano, cristalino como a pele de sua alma parnasiana. Poema já bem mastigado para facilitar a deglutição do entendimento. Leitor culinário e poeta servidor – de avental sonético –de musas banqueteosas e exigentes de roupagens exatas, cores rimadas, tudo dentro das especificações de Bilac (perpétuo, como Machado).

Não na ânsia metafísica meramente de absolver, sentir um poema, que é o caso do leitor relativo ou elementar, mas o impulso de acesso ao absoluto da palavra, não serviente ou veículo da referência (que reifica) ou ao sentido óbvio, exato, relativo (que ulule) é o que caracteriza o leitor absoluto, o que lê o ultrafuturo da poesia.

A poesia, tal qual se faz mecânica e especificadamente fabricada, poderia servir para fazer manuais de instrução do uso de produtos e bulas de remédio, pois é precisa, logicamente correta, previamente dotada de basto sentido.

A palavra como espírito humano, não fórmula ou gramática coloquial, sintaxe cotidiana, certeza de sentido, instrumentos da dominação, receituário do poder sintático e anti-humano.

Nada há de prévio num poema. Só, após-poema, é que o poeta terá do texto consciência plena (saberá o que não disse, ou melhor, o indito, porque o dito todos já o disseram regradamente).

O poema absoluto não é nada sistemático, pois é fruto excelso (embora fugaz) do acaso dado ao id livre de peias e condições restritas do ego. É o id que lhe dá o poema, leitor (e da comunhão dos ids do poeta e seu, basta a exegese singular).

Não a prévia noção ou consciência do tema e projeto de métrica e rima (tipo, em decassílabos, AB –AB...).

É o fugaz absoluto e imprevisível a firme meta do poema absoluto.

Condições e qualidades que recusam (mesmo rechaçam) toda oralidade (que será proibida absolutamente).

 

Murilo Gun

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