Há uma licor de palavras
cheio de lumes e seivas
repleto de olhos de estrelas
num cálice azul dormindo
capitoso e iluminado
poema waldemarino
que incita oceanos rápidos
alumia almas e escuros
dessedenta céus e pedras
e lança nos rostos breves
coivaras, longos desvelos
tornando o leitor parceiro
de belezas indomáveis
escavadas no silêncio
do poema bem lapidado
com cinzéis do imaginário
e buris do encantatório.
Waldermar as realezas
ilusórias menospreza
mas com astúcias recupera
(da Ítaca beneditina)
os doces arsenais da infância
supridos com as escamas
dos cardumes nos jiquis
donde se derramam sons
de sonetos submersos
magistrados da palavra
imperadores do tempo.
Vize o sonho (e a magia)
no átrio da Arthur Muniz, sacro
relicário de amigos
do imenso poeta maior
onde o reino da palavra
novel rei vai dilatando
a quila e o empório do verbo
Dos sábados debicados
quantos poemas Ele espalha
como se fossem lentilhas
aos canários canoros
da transubstância adeptos
hieráticos, atentos
ao sacerdote supremo
(Dom Waldemar Freire Lopes)
que os canteiros da palavra
semeia, oferta, arroteia
corpo e espírito em amálgama
sacramenta, sulca, crava
o verbo e a rima na página
da alma onde avulta e germina
a árvore do soneto
(o pássaro da palavra).
Eis que sinto Waldemar
alcandorado de amigos
num dos sábados do Atlântico
da távola cavaleiro
par e líder literário
no torneio do soneto
onde Iraci é rainha
e a poesia prêmio avaro.
Nos altos prélios sabáticos
do reino de Waldemar
Lopes de loas e pés
anapésticos ou trocaicos
espondéicos ou iâmbicos
o assunto ou norte é o soneto
liça do bom decassílabo
na segunda e sexta e décima acentuados sem artifício
em torno da mesa o poema
mediado pelo espírito
do álcool ou do ótimo litígio
em volta do qual peleia
vasta hoste de amigos
nas assembléias do verbo
que reumaniza vidas
e traz Deus para tão perto
que entre as letras de um soneto
de Waldemar Lopes sente-se
das criaturas da palavra
o alento do Criador junto.
É da noite de teus olhos
que nua nasce a claridade
Waldemar Lopes e a treva
como círio consumida
todo o escuro debelado
as nascentes ressurrectas
enchem da luz da palavra
os odres de odes supremas
as crateras dos sonetos
as taças das elegias
cálices de redondilhas
e vasos de ditirambos.
Ler Waldemar é sentir
os regozijos do corpo
os entusiasmos da alma
lantejoulas de silêncio
rendilhados da beleza
e acima de tudo ver
lépido rouxinol voar
dentre as folhas de seus livros
para junto de Iraci
voltar a beber idílios.