O poema pode constituir, abranger, ser
uma mera e simples parcialidade
algo intranscendente que vele o real
(parcelar e bem medido talvez)
ou um total e completo caos (criador)
uma totalidade radical do real
(incluindo aí todo ou muito do irreal).
O poema parnasiano transposto para o século XXI
(esse absurdo e doente e malvado anacronismo santo)
pelo soneto descritivo, moralista, agradecido
ou mesmo meio mirabolante, suado, criado
não é literatura (hoje), é literalidade (não
literariedade). Descrever não é revelar.
É velar a essência, mascará-la
de ritmação externa, ábaca, rímica.
A descrição sonética de uma emoção pessoal
de uma situação “moral” ou comemorativa
(aniversário de mãe e essas coisas e tais)
é imbecilidade esplêndida, digo, exponencial.
Descrever (cantar d’amigo agora) equivale
a sonegar a essência que é imprecisa
pela precisão do poema (de exatidão aritmética).