19
Sex, Abr

destaques
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

Deus deve estar triste. Com o mundo dos homens. Sua principal criação. Com certas criaturas, que se revelam novos e atilados átilas e se deliciam com jogos de guerra, invasão real de países, esmagamento literal de nações, à força de bombas e fuzis automáticos, granadas, reides aéreos, razias bombardeiras.

Após o fim da guerra fria, com a rendição de um dos oponentes, o que sobrevieu reinventou a guerra quente preventiva, sem declaração, para tumultuar, fabricar armas, renovar o parque e o estabelecimento industrial-militar, rendoso e sanguinário, em que petrodólar e usura dão-se as mãos.

A tristeza de Deus se estende a muitas regiões. Aqui, no Brasil, vivemos dias tumultuosos, sacudidos por violência desmedida, apavorante, rendidos ou sitiados por bandidos, presa da mais infame situação de instabilidade psicológica e insegurança física, como em meio a uma guerra não declarada, mas muito mais perversa do que qualquer outra.

Batem em nossas almas, espremem nosso espírito. A carne, não se fala, rasgam.

Ante tanta ferocidade, tanto desencanto, não se pode ficar alheio, como se estivéssemos no melhor dos mundos panglossianos. A postura passiva e alienada nos será cobrada pelo futuro. A impassibilidade tornar-se-á irresponsabilidade.

E foi com essa visão e esse sentimento que o escritor Alexandre Santos- atual presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, da Academia de Letras e Artes do Nordeste e Diretor Geral da UBE – reagiu, coerente com sua trajetória de vida que mostra seu constante humanismo solidário e essencial. Autor de obra extensa, cerca de 30 livros publicados, entre estudos técnicos, crônicas e dois romances – um, o Moinho, traduzido em espanhol, Alexandre Santos lançará, no próximo dia 8 de junho, às 19 h, na Academia Pernambucana de Letras, o G____________, poema polifônico, livro total-objeto que privilegia o moderno em lugar de temas eternos. O modo de civilização em cheque e choque, a modernidade jogada aos cães, a desumanidade vigente, a desumanização do homem são os assuntos do poema, simbolizados na trágica situação do Iraque.

G___________ é um livro com iluminuras a cargo do imenso artista plástico – Wilton de Souza – que ilustra magistralmente cada poema. O professor universitário de pós-graduação, Bezerra de Lemos, analisa, desnuda cada poema e oferece ao leitor um quadro crítico da obra.

A plasticização artística, a iluminura literária enriquecem o significado, são significantes como os versos. G__________ é um livro total e humano, um livro dentro de outro, pois traz um CD em cada exemplar. Como obra gráfica é ímpar e traz a marca de grife CEPE.

Em suma, é um livro oportuno e desejado. Não se justifica o silêncio literário, a tirada do corpo, o dar de ombros ante uma realidade tão forte que nos devora: as guerras de hoje, em ato ou em potência, e batalhas, como a de São Paulo, bem como outras guerras civis ocultas ou declaradas que se desenrolam ante nossos olhos arregalados e estupefatos, sem que ao menos surgissem poema para marcar nosso tempo e nossa alma.

Montado em quatro partes, com cenas que representam desde uma situação de paz até a invasão demoníaca, a reação, a resistência, a derrota do demônio até a glória da nova paz.

G__________ também é peça teatral, a ser encenada no lançamento do livro. Também há versão em DVD e uma belíssima música de fundo, criada para a teatralização, composição do próprio poeta.

G___________ é, portanto, um poema marcado por profundo humanismo, fruto da inquietação e mesmo da insatisfação mais profunda ainda de um poeta com a situação humana do mundo, que assim coloca sua palavra e a arte, teatro, crítica literária, música, canto, artes plásticas, a serviço da esperança, contra o desespero. Ferido pela ferocidade do mundo, Alexandre Santos reage – em nome de todos os escritores e artistas - artisticamente. Seu símbolo é o drama diário vivido há três anos pelos iraquianos, uma situação que apontava mil caminhos de solução prática, mas um governante que se considera dono do mundo escolhe a via bélica, a agressão, a invasão, a força, como se um povo fosse um objeto do qual se apropria qualquer um, gado em porteira trancada, trapo que se incendeia, bonecas de carne para o pasto das bombas.

O 11 de setembro foi muito trágico, mais não representou uma declaração de guerra ao mundo. Foi fruto de uma política desajustada e injusta dos USA em relação ao Oriente Médio, em clara oposição à de Clinton. Cabia à ONU liderar a reação e nunca um país-membro tomar as decisões pelo resto do mundo e criar guerras, onde civis são vítimas inocentes. É imperialismo fanático, redivivo, tipo Stalin.

Alexandre Santos mostrou que isso é uma anomalia e que há sintonia entre a literatura e a realidade.

Murilo Gun

Inscreva-se através do nosso serviço de assinatura de e-mail gratuito para receber notificações quando novas informações estiverem disponíveis.
 

REVISTAS E JORNAIS