(última noite de maio 1999) estupefato
e delirante Patti Smith... e entendi Rimbaud.
(De quem Lady Gaga recebeu influência vital
não influxo normal, legível, concreto no entanto).
Me assombra (na acepção devastadora o id) a poesia
chinesa (da Tang) e muito o japonês magnífico
e imortal Bashô. Gozei.
Patti musicou Rimbaud. Provisionou o som ébrio
tirou proveito (e préstimos) da música absoluta
e embriagadora da obra de Rimbaud. O barco
bêbado trinou na campina do mar adentro
a quilha apontada ao infinito afora. Pousou
no arvoredo das algas. Aportou na eternidade humana.
Buscou abrigo das águas do rock and roll.
Patti é o céu da cena.
O cais da loucura o poema.
O vulto do tempo.
A praia do alento.
O pouso do vento
na modorra do momento.
Ouvindo-a nítida me vi em meio às ondas
espessas dos mais altos sintagmas da vida
abstive-me de não ser
e me alcei a lances distantes da tecnologia
do lábio carmim da morte sem fim.
O lirismo (meio que violento, meio casto) beat
me acompanhou como um uivo afora (na vida hínica).
A poesia americana (dos anos 60) foi exatamente
meu segundo alumbramento.
O primeiro foi José Gomes Ferreira em 1973.
Quando nada sabia de poesia, era Diretor Geral da
Receita do Estado Amazonas e detinha meros
27, 28 anos, e descobri numa livraria inominada
da Zona Franca Poesia militante volumes 1 a 4
de JGF... e comecei a flutuar da cama
do Líder Hotel onde morava possuído do êxtase
estranho e indecifrado provindo da fonte ímpar
daqueles textos magistrais lusos. Antes de FP.
E depois.
O Walt Whitman, de Richard Chase
(da Martins) encontrado num sebo em
São Paulo, anos depois, foi vital a mim.
Walt, Ginsberg, Burrougsh e Ferlinghtti,
além da prosa queimada de On the road
e cia me encantaram (ou viciaram) como
cânhamo, por anos. Eles vinham dos anos
60 e me fascinaram nos 90. Se há
algo no entanto que nunca ouvi e não gostei
é o tal rap. Tenha paciência. Não é música.
É outra coisa. Em liquidação. Pesada.
Se improviso em poesia? Sim, escrevo a esmo.
Noite adentro, madrugada afora, no meu
Castelo Magano (em Garanhuns) ou no
Reino Encantado das Águias em Água Preta
onde se situa o Centro do Universo.
Improvisal é meu estilo. Improvisar é o
contrário de planejar cenas, contar sílabas
formalizar rimas, arrumar palavras (no
sentido de manipular), manter o controle
da escrita emocional, versificante, em busca
de lendários fechos de ouro (ou sentidos planejados).
Sim, improviso, no sentido de
Bach, imerso no órgão provocando a canção.
Não sou poeta amador nem profissional.
Sou poeta e pronto final. Provas: os últimos 10,12
livros que publiquei (de belíssimas capas e de
poesia absoluta) não os lancei. E assim
evitei dúzia de bobajadas e fala-fala.
entrevistações, fotos com camisa fotogênica
e perna sobre perna com sapato de bico
fino e mais fina ainda película, atrás uma
(ou duas) estante lotada de livros clássicos de uma
biblioteca. Arre! E ainda (ou pior, ou melhor,
melhor) não os coloco em prateleiras
esqueléticas de livrarias esquecidas (isto é, frequentadas
pelo povo ignaro de classe média alta e alta (média). E os
livros, acumulo-os (em parte no Centro Cultural Vital
Corrêa de Araújo, em Recife, e em minha biblioteca Borges
na Av. Visconde de Jequitinhonha, 2690 – Boa Viagem, onde
nasceram Cláudio Corrêa de Araújo Neto e Murilo Dantas
Gun Corrêa de Araújo – hoje residindo, em minha atual residência
na mesma avenida, defronte do Parque Dona Lindú).
Além dos cerca de 11 mil livros lidos, em
relendo, acrescento 2 a 3 mil livros meus
devidamente encaixotados da BAGAÇO (de
Arnaldo Afonso Ferreira e Inês Koury). Quem
sabe, para preencher os espaços vazios do
meu caixão? Ou serem vendidos como
peso (culto) de papeis? Ou dados a nada. E a
ninguém? Tudo. Junto. Cadê a vaidade
ou a rima. Não hão (há).
Não gasto horas de poesiar para me
promover (à pessoa física – e ainda bonita
vital). Não há personalíssimo em mim.
E pra quê? Chamar atenção. Isso sim:
falo deles nas minhas três revistas
literárias mensais PAPELJORNAL, SINGULAR e
ÚNICA e no site POESIABSOLUTA.COM.BR
Minha ambição na cena poética é zero.
Embora não vá morrer (facilmente).
E a música aguda porém leve e noturna
galgou tímpanos e pátios auriculares
dobrou martelos, bielas, abandonou estribos
e cavalgou impenitente pela espessura da noite
crivos obscuros abriu no pavilhão da ioça
em estridentes páginas aportou
como nau no areal.
Lírio barroco, pompa da palavra, jardim
de inverno da alma
texto corrosivo e atordoante de palavras
lassas de sílabas plúmbeas (ou devassas)
acantonadas em páginas de fúria.
Sonhos são descartáveis por natureza.
E definição. E inaproveitáveis. Não
se reciclam sonhos como lixo.
Mesmo os durões.
Quando o futuro vai começar?
Eis a pergunta que não cessa
(e não vai calar até ser ouvida ao menos)
de parte dos brasileiros, há mais de um ano.
Esqueleto de eco Narciso deixou
um resto na óssea água
de seu rosto.
Quando a água morrer
e pedra virar líquido em pó
o que será da veia?
Agora que dos homens restem parcas
e dolorosas palavras das espúrias
(ou malévolas) escavações do espírito bateadas
(pérolas sem viço e informes)
o que fazer para continuar a ser?