A almôndega
é uma metáfora de carne
navegante do mar da macarronada
que atravessa da foz à nascente
os espessos rios da terrina
ecoando no cristal ávido
da saliva do comensal.
A almôndega é uma criatura
made in Italy
conquistadora de massas famintas
com suculentos exércitos
estacionados nos quatro
continentes do prato ( teatro
das guerras gastronômicas ).
A almôndega
é uma assembléia oblonga
um concílio de filés menudos
de marca registrada e alma swift
que devassa as apetitosas
vias da garganta
e intestino da Europa.
A almôndega é a deusa pop
das artes culinárias
com poderes sobre a mesa
dos restaurantes populares.
Soberana do território do cardápio
de privilégios divididos
com o deus tedesco do hamburger
imperador que se imprensa
entre anchas hostes chatas
de pão francês com mostarda.
A almôndega
é uma metamorfose completa
de carnes reunidas
em torno de uma metafísica
do gosto urbano devorada
nas mesas das casas melhores
por cavaleiros de épicos talheres
e amplos molares
galopando corcéis de saliva
em almoços milenares.
A almôndega
é uma comédia de carne
que se encena
nos tablados da boca.
É uma cantora do coro
de vozes do esôfago
que faz dueto com molho.
A almôndega é o milagre
da multiplicação da carne
( ou metempsicose de vaca ).
Nota: Este poema foi encenado várias vezes, inclusive em teatros, na peça Só às paredes confesso pela magnifica e bela atriz, jornalista e modelo, Vanessa Sueldy. E marcou época. Agora revivo-o para o FACEBOOK