Do poeta empoleirado na palavra
do varal farto do verbo vendo
o trânsito eterno do mundo (vasto e vago)
assistindo à peripécia do tempo
gastando-se e gastando os rostos, erodindo
o ouro das cútis humanas
tão vertiginosas e variadas (como o nada)
contemplando a mesmice e o distúrbio
dos idiotas viventes em seus casulos amoedados
e cárceres bursáteis e catres monetários
(à espera definitiva do rápido e imutável fim
de tudo em nada – pois no inferno
1. não circula dólar ou euro (ainda?).
O que move o homem (a mim ou a ti, leitora)?
A sede o move de pote em pote da vida
de vaso em vaso da alma até o vazio (absoluto ou não)
2. até à saciação da morte.
Toda paixão entronca, estanca (move-a a
paralisia do futuro que escava esquizofrênica)
bebe, embriaga-se, recua
3. e se precipita no amor.
Eterno é o átomo
e somos átomos de Deus.
4. Onda do corpo corpúsculo da alma.
A poesia absoluta é intangível. Porém real.
E mediata também.
É caos implicado e explicado.
5. (O eixo do caos está em sua implicação vital).
6. A poesia absoluta fornece fosfato à alma do leitor.
Órbita de maçãs caindo do céu
7. da cabeça de Deus.
Vozes de silêncio (não de sílica ou cilício)
nítidas como um lamento.
8. Vejam todos os que me leiam.
9. Um rosto morto é a maior obra de Deus.
Um rosto vaidoso ainda e bem morto
é impecável. Belo e putrefazendo-se
lentamente como um lírio abortado.
É um rosto (o bem morto) se sentindo eterno
mesmo sem a satisfação dos sentidos em nós
(próprios, pois os cinco foram
os primeiros que morreram e os dos outros
10. que estão também indo-se.
(Duração sem plenitude é zero.
11. A esquerdas).
(Baixas paixões ideológicas exacro.
12. Não interessam à poesia).
Quem nunca viu o rosto morto não é
ou viveu – ou vive, ainda
apenas é uma falta
o rosto morto é tudo o que se foi
(belo ou não, é trágico e nu e pleno)
é foice e ser ainda – é tudo
o que será enfim
pois é um rosto irrevogável. Definitivo.
(Cujo destino mais belo é a podridão
13. também irrevogável).
Rostos mudam. Só a morte
14. não os muda. Mais.
Tempo significa algo? A não ser dor
de ver e viver a vida (dura e rápida
15. como ele), a não ser cru e expresso trânsito?
16. Fuga do tempo! Como? Quando?
Poeta tem que ser radical (na política e no amor
principalmente), rádice e tal (rime ou não)
e o poema caos calculando ou acaso dado
palavra construída sem andaime de rima
edifício levantando como sol ou falo
sem o critério do cálculo pedante
ou levante da sombra do desejo
que edifique com dificuldade o poema na página
(branca ou meio rasgada)
de modo tal que a questão vital
de legibilidade relativa
ou intelegibilidade escrita (ou não) seja
de somenos importância
de valor zerando.