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VITAL CORRÊA DE ARAÚJO (VCA)

         A depressão política – e os abortos econômicos – que infelicitaram (e ainda tristemente o fazem), desde 1822, e que nos apequenam tanto (como americanos e latinoamericanos), tem suas muitas (e razoáveis) razões.

            Dentre estas, ressalta a desavença. Entre, regiões, ideologias, costumes, que estão a se atiçarem, sempre. É algo que assim e negativamente se define: ausência de uma concepção do mundo, da vida, do ser, da sociedade, do si. Facilmente indaga-se: por que não temos destaque positivo no mundo (prêmio Nobel, romancista ou poeta de cunho universal – Fernando Pessoa, Saramago)? - Por que não temos um único filósofo (ou artista) de consequência cósmica?

            Não é que sejamos jovens (515 anos). E Vargas Lhosa, Borges, Neruda, Carpentier, Lezama Lima, García Marquez? Ah! temos Paulo Coelho, que não é pouca (nem muita) coisa, mas existem razões que a própria razão desconhece. O imponderável, o fati (o impossível), o desvio etc.

            Não dispomos, como povo (?) ou indivíduo de um weltansshauung (termo alemão para concepção do mundo).

            Aqui, restrinjo o tema para o campo específico (e amplíssimo) da poesia.

            Não há povo que conceba a poesia tão cavilosamente. Tão superficialmente. Tão ingenuamente. Como o nosso, povo esplêndido.

            Vive-se no ramerrão de cálculo de sílaba, medição de verso, achado de rima, arrumadinho de poema, que representa atraso de mais de cem anos. É que no Brasil nada se muda, nada se cria, tudo se perde. O avanço artístico de 1922 não durou 20 lassos anos.

            Daí, a proposta de um grupo de revolucionar a poesia com o Movimento Poesia Absoluta. Que propõe uma concepção poética do mundo. Encara a poesia como o martírio absoluto (inconfrontável) da palavra. Órfica, alquímica, ôntica, quântica... e não parnasiana (mais). Pois, já chega.

            Para nós, o poema é mero meio (mensagem) com fins (não autônomos) pessoais, políticos, didáticos, de comunicação em verso. Isso é exclusivo do campo da legítima poesia popular, dos cantadores. Quando é preciso dotar de plena autonomia a poesia... e vê-la como além da literatura (até).

            Não como algo da área do conhecimento ou de tez ou jaez intelectual, mas como algo indecifrável de imediato, de uso complexo de órficas ressonâncias, que nos conduza ao futuro (não ao passado bilaqueado), que nos anime o espírito e alimente a alma (e não divirta o ócio, tipo poesia de salão transitório e imediato de amor). A poesia absoluta é como uma religião, é um campo de mistério para mergulho do novo homem, para renovação do espírito, para reanimação pelo fogo do verbo da alma congelada, pelo tempo áspero e inculto que se vivencia hoje.

            Como comprovou Admmauro Gommes, com base em pesquisas da Universidade de Liverpool: o texto poético complexo ao máximo (na acepção de Pound) expande o cérebro que, perante o desafio do estranho texto, multiplica os neurônios. Em festa, o cérebro suspende doenças, renova-se. E cura, mais do que qualquer livro de autoajuda.

 

Murilo Gun

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