Poema escrito com a pena da eternidade.
Pois, o lápis comum é fútil, é inútil.
Que o poema traia
buscas, túmulos, verdades raras
hinos, lumes cinzas, seivas, hiatos de estrelas
enigmas duradouros, esquifes sem fé, cópias
de Deus copioso.
Escrever poesia absoluta é como escrever
sobre páginas de ondas
sinuosas adeptas do vento (filhas de Éolo)
um livro líquido por atacado de metáforas
molhadas como orvalho (e duvidosa como a vida).
E nele músicas de água (nada impoluta)
eco alto de trovoada pura
cães assustados e notas à terceira margem.
A começar entrevero com leitor obstinado.
Escrever o nome na água é inverno
é pular no sólido que se desmancha à pele
escorregadia, macia e duradoura da água
é sentir em si a eternidade líquida.
Na água é como Shelley escreveu
afogado de metáforas (no livro ou golfo
de Spezia um dia).
E Caronte certeiro levou para si
(oceano noturno) o desmonetarizado poeta.
Seu coração ígneo Keats cultivou
de fogo palpitando à sombra da palavra.
II
De margens rumorosas, ribeiros lentos
e mares sem ventre vive a poesia.
III
De ânimos e cátodos
de dissociações associadas
vive o núcleo da palavra que partículas do verbo dinamizam
até que irrompa do poema absoluto
a página.
O que convém a iluminação da palavra?
O elétron do verbo faz a luz?
Trêmulos cosmos arrostas, poeta.
Com teu verbo em riste (sem medo).
E buscas buscas
túmulos do cosmos buscas
e mitologias monetárias.
a Cláudio Veras e Admmauro Gommes