Morri ontem. Ao raiar do (odiado) dia.
A manhã ainda sem pássaro dentro. Vazia.
Sol apenas anunciado por nesgas de luz
ou clarões arrependidos.
Eu que nasci num córrego morri em Londres.
Na solidão enregelada da cidade grande
Anônimo como uma barata melancólica.
O enterro foi azul. E frio.
Procissão de nervos encasacados
e rumores de barro saxão me acompanharam.
Para as lágrimas não havia tonel que chegasse.
Abriram conchas (de sopa quente) e dedais
para recolherem-nas com apuro.
Parquíssimos amigos frientos seguiram o féretro
mais frio ainda com minha alma gelada dentro.
Ao baixar ao sepulcro senti
(não propriamente Cristo, como desejável)
mas cimentos pesarem-me o rosto.
Um dístico serviu de marca da lápide improvisada.
Não obteve salvação.
Bem que não tentou.
A ração de imortalidade foi insuficiente.