O silicato incansável dos dias
o cascalho das emoções vazias
geometria pânica, épura rupestre
ctônica veia para o basalto do id
via, aventura, salvação, travessia
granitos ocupando sacro átrio da alma
sede anônima percorrendo lábios híbridos
urânios nus espicaçando veias, os sulcos
sonâmbulos da taça galgando beiços desesperados
(que sede sitiou, infectando-os)
manhãs perdidas, albas feridas
lugares comuns da vida delirando
estacionado coração dos objetos régios (e úmidos)
(como gerúndios abandonados, prostração intransitava).
Na página celeste raiz
de capítulos de rosas com sátiros
buquês de fogo, hinos acesos
a cada intervalo de pássaro
a cada instante alado
a cada respiração do desvão
a cada palpitação da palavra coração
a aldabra do demo –
níaco galpeando tímpano laico
estribo e martelo comungados
cegos golpes aferindo a glote
preâmbulos amando romãs, pêndulos
que a frágua lapida
chamas iluminando precipícios.
Fendas profundas estrangulando martelos
destripando estribos (vísceras do tímpano nu brilhando)
inoculando vozes sibilinas na nudez do verbo
a diocese dos céus tão distante do início
ante tão veladas páginas sucumbindo
leitor resoluto (soberbo ou resistente)
e propósito de vazá-las vai ao lixo
todo o sacrifício de ouvi-las
morre no túmulo do inaudível
no melhor dos caos reside poema finito
habita metáfora cansada (como os dias)
entre cães lentos e pomos de linho
entre toalha das estrelas e colcha abissa
entre lençol do uivo e bramante hínico
entre gume da dor e apogeu da ira
está ampola de cristal que na veia uiva
está a alma da leitora no enxame da poesia
(está olho da leitora na lápide do poema)
ébrio verso no rumo do barco sem sossego soares
só pedras hispânicas, só euros gôngoras.
Estrépitos da manhã que morre
ferros da aurora em brasa, sacrifício da hora
alvorada imposto à alma
salas do suicídio ocupadas
tão preclaras e escusas
águas que apodrecem odres
asilos cheios de sede árida
asilo azul (e rural), taças demolidas uma a uma
fardos do infortúnio nos ombros humanos
ainda trêmulos atlas cansando
do peso inumano do mundo
cerrada seiva da cor (coro do lume cego)
espessa gota do desamor triunfando
sombra pétrea descerrada, cena muda
sobre fado dos homens (canção fatigada)
a pecúnia dos príncipes
o crepitar do detrito
azuis escombros do sentimento
festas insensatas do instinto.
Pego sonhando com abismos.
Feérico ama alumínio
igual alma partilhama.
Deus é escuro (embora ígneo).
não é ermo nem de alumínio.