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Sex, Abr

destaques
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O silicato incansável dos dias

o cascalho das emoções vazias

geometria pânica, épura rupestre

ctônica veia para o basalto do id

via, aventura, salvação, travessia

granitos ocupando sacro átrio da alma

sede anônima percorrendo lábios híbridos

urânios nus espicaçando veias, os sulcos

sonâmbulos da taça galgando beiços desesperados

(que sede sitiou, infectando-os)

manhãs perdidas, albas feridas

lugares comuns da vida delirando

estacionado coração dos objetos régios (e úmidos)

(como gerúndios abandonados, prostração intransitava).

 

Na página celeste raiz

de capítulos de rosas com sátiros

buquês de fogo, hinos acesos

a cada intervalo de pássaro

a cada instante alado

a cada respiração do desvão

a cada palpitação da palavra coração

a aldabra do demo –

níaco galpeando tímpano laico

estribo e martelo comungados

cegos golpes aferindo a glote

preâmbulos amando romãs, pêndulos

que a frágua lapida

chamas iluminando precipícios.

 

Fendas profundas estrangulando martelos

destripando estribos (vísceras do tímpano nu brilhando)

inoculando vozes sibilinas na nudez do verbo

a diocese dos céus tão distante do início

ante tão veladas páginas sucumbindo

leitor resoluto (soberbo ou resistente)

e propósito de vazá-las vai ao lixo

todo o sacrifício de ouvi-las

morre no túmulo do inaudível

no melhor dos caos reside poema finito

habita metáfora cansada (como os dias)

entre cães lentos e pomos de linho

entre toalha das estrelas e colcha abissa

entre lençol do uivo e bramante hínico

 

entre  gume da dor e apogeu da ira

está ampola de cristal que na veia uiva

está a alma da leitora no enxame da poesia

(está olho da leitora na lápide do poema)

ébrio verso no rumo do barco sem sossego soares

só pedras hispânicas, só euros gôngoras.

 

 Estrépitos da manhã que morre

ferros da aurora em brasa, sacrifício da hora

alvorada imposto à alma

salas do suicídio ocupadas

            tão preclaras e escusas

águas que apodrecem odres

asilos cheios de sede árida

asilo azul (e rural), taças demolidas uma a uma

fardos do infortúnio nos ombros humanos

 

ainda trêmulos atlas cansando

do peso inumano do mundo

cerrada seiva da cor (coro do lume cego)

espessa gota do desamor triunfando

sombra pétrea descerrada, cena muda

sobre fado dos homens (canção fatigada)

a pecúnia dos príncipes

o crepitar do detrito

azuis escombros do sentimento

festas insensatas do instinto.

Pego sonhando com abismos.

Feérico ama alumínio

igual alma partilhama.

Deus é escuro (embora ígneo).

não é ermo nem de alumínio.

 

Murilo Gun

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