Todo vazio é hiante.
Todo uivo viável.
Todo abismo vê.
Só a palavra usura é viva.
Todo vazio é hiante.
Todo uivo viável.
Todo abismo vê.
Só a palavra usura é viva.
A santa insônia, a imprestável lucidez e Deus, carrego-as como um burro, tempo afora, pelas estradas esburacadas da vida. Trata-se de VCA.
Olho o copo de vodka e sigo o caminho do lábio
ávido linhas afora inumerável e uno, vital
e sempre desrumo em frente.
Me aviça o texto escuro, que é vivo:
à noite material da alma
à noite primal da poesia
Indizível felicidade me traz a noite do Retiro.
Junto – ao pé – da amoreira noturna olho
A consciência é uma doença, diagnosticou Dostoiévski, em seu romance naturalista radical Memórias do subsolo.
A louca largueza da noite me contempla.
O noturno em mim saboreia o verbo.
Ao culto nunca diurno me devoto, vivo.
Sinto Holderlin rodear-me
Em todo homem dorme um profeta, e quando ele acorda há um pouco mais de mal no mundo...
A loucura de pregar está tão enraizada em nós que emerge de profundidades desconhecidas ao instinto de conservação.
Ante a 13º folha branca chego
ao amparo de um cubano charuto (cinza)
e 12 doses da metálica vodka danzka (líquido).
Dos úberes da noite, bebo prodigiosa vertigem
Sugo vertiginoso ego e anulo. Vou
a nus recônditos de mim, à luz do verbo noturno, sigo cego ou não.
Onde o espanto apuro.
E.M. Cioran
Quando se chega ao limite do monólogo, aos confins da solidão, inventa-se — na falta de outro interlocutor — Deus, pretexto supremo de diálogo.