Na república mundial das letras, vivemos, no Brasil, ainda uma monarquia, em que o rei Machado (diacronicamente meritoso, sincronicamente superado) atravessa séculos (desde os oitocentos) com seu protagonismo e idolatria íntegros e exacerbados,
ÊXTASE E PRANTO
Solar impureza do destino
e noturno êxtase de orquídea
trazem tristeza de amores mortos
grafam no rosto nomes de rosa e mosto
LEIA
Não sei se num livro
em velino ou cambriana película
seixo terciário, mas sei que está escrito
TEXTO SOB BOMBA
Aquele texto sânscrito, antiqüíssimo, cravou-se em minha curiosidade cravejada de pérolas áridas, do brilho de mistérios percorrida, e comecei a faina hermenêutica,
DECLARAÇÃO FLORAL DE AMOR
Ela vinha com músicas do meio-dia
nos soltos cabelos
Sinfonia de carícias velava
ventre de pelos em levante
A CÉSAR
A poesia, ou seja, o uso qualitativo
conotativo e figurado da palavra
é apreendida – e não doada
LÍRICA E REAL
A poesia não quer ser medida daquilo que se chama comumente de realidade (dos olhos do corpo ou os da mente automáticos).
BEM QUERER
Não quero escrínios, cavalos
suores, açoites, sensação de imensidade vazia
arruelas de ouro, cromos
tranqüilos noites desenluaradas
Baudelaire: Há certa glória em não ser compreendido
Sébastien Joachim:
Theodor Adorno diz não ser possível fazer arte depois de Auschwitz? Respondeu Paul Celan, filho das vítimas do Holocausto: sim, e mais do que nunca.
CÂNTARO DE SOMBRA
A sombra do cântaro, o rastro
do touro na tarde do corpo
o torso do ouro, a carne e o corno
do Minotauro e seu falo inqualificável