Noites sedadas, a sede à vezes não se doma

e é diária, não só noturna como parece

a seda das noites eram minuciosas e varomis.

Quando uma nuance de seda noturna me tocou amanheci.

A seiva é como fogo branco

plêide de brilho a levanta.

 

No meu decálogo biológico boto

em primeiro lugar o floema.

 

Coleciono tempos verbais desde pequeno

gosto de pretérito perfeito

e futuro do subjuntivo: são lindos.

Presente meio que imperfeito é meu tempo

(o que vivo é morto).

 

Mais que imperfeito como poeta sou

sou tão imperfeito como poeta que suo.

Quando canso junto 6 ou 7 tempos verbais

e os amordeço um a um.

 

Cavalo solto ao vento é relâmpago

que atropela de luz o céu.

 

Aos ossos de meus avós de que sinto saudades.

 

Na sandália de Empédocles

que o Etna devorou

estava no solado inscrito

o futuro do homem no mundo.

Agora o futuro é perdido.

 

Atravessei o poente

e o caminho ficou mudo.

Não ser mais de onde vim.

Quem sou já não sei.

E não sei se o soube.

Mereço olvido longo.

 

Ontem estive no crepúsculo do páramo

(etéreo como abelha)

a olhar o horizonte brusco centelhado

incendiando os olhos

a ouvir o rumor do vento alto na relva musical

dentro do Castelo do Reencanto.

O fogoso esplendor me deixou mudo.

Busquei logo na memória dos poentes

um como aquele. Pensei em não acreditar nele.

(Mas era um ocaso áspero e brilhante).

É possível fazê-lo de novo

(foi o que pensei incrédulo).

E que um crepúsculo de pavão.

 

À sombra do onipotente

servos moram, dormem cedros.

 

Sua pele era de madressilva.

Boca de coentro. O líbio de alento.

 

A hora em que pássaros se vão morrer

voo a ti, a teu sexo carnívoro.

 

Murilo Gun

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