Multidões consumidas
nas fábricas nos gabinetes
nas porteiras nas borboletas
nos supermercados nos cinemas
nos estádios nas igrejas
nos discursos nas cadeias
nas gavetas das avenidas cruas
no amoníaco e signos do zodíaco
na voragem dos carnavais
nos sonhos da insânia
(nas avenidas de pendões dos canaviais)
nos campos da pecúnia
na arte pecuária
no corte das medalhas
e no fio das espadas
multidões urbanas de matéria plástica
multidões narcotizadas emaranhadas
multidões presa das teias do seu temor público
multidões marcadas pelos ferros do desamor afiado
multidões passadas como a espadas
vendidas no mercado da fome por atacado
nas bolsas de valores nos leilões da usura ávida
multidões varridas pelo fogo do desespero puro
multidões vagas anônimas amébicas tripudiadas
multidões débeis vazias estrábicas
multidões sem fim ou fio de esperança
multidões sem meados de espaço
multidões náufragas multidões escorraçadas das praças
aos labirintos da desgraça atadas
a liame dos elos da boca da fome enjauladas
do coração dos cadeados engrenadas
multidões apáticas e tensas
inconscientes de sua morte imensa.
VCA