Tinha uma profissão peculiar
(fora de série, dizia-se nos anos 80)
e única, acho que jamais exercida antes:
enterrar luzes, quaisquer, sob diferentes formas.
Luzes enterradas enchiam de sombras
o terreno em forma hexagonal
equivalente a 170 campos de futebol
que preparara, com auxílio de um edil, para
seu ofício de coveiro lúcido.
Mantinha em seu labor estranho um ritmo branco.
Cultivava nas horas vagas um campo de papoulas
arrependidas e criava sete minhocas azuis.
De um poço de estrelas extraía baldes de luzes
para esclarecer sua vida ungida de sombras rudes.
Logo cedo abria duas covas de lumes
e uma vala comum para claridade em excesso.
Para lâmpadas suicidas
usava a sombra pesada
de um candelabro.