Narciso se desnuda de si mesmo
a morte pela água é seu maior triunfo
vitória afogada da vaidade sôfrega
em beber-se venceu (n)a vida
seu reflexo é o último eco ato do mundo
ao olhar-se urde espelhos aquosos
como relógios (à Dali supremo)
limas criselefantinas aplica
às minúcias de seu rosto náutico
a cinza de seu sorriso lasso
o pó de sua alma pátina do espírito
etecétera.
Veias em que navega o lume
escuros que atravessam o espírito
dos ígnios círculos que a água engendra
pelo alento (de pedra) de Narciso movida
a reverberação do concêntrico atinge
a arrebentação do rosto
a iluminar o poro do pano
até à têmpora do lençol
que escuridão erija
à espera de que olhar imole-se
a cada tristeza que se instancie ou instaure
ou sulco selvagem que à face cavalgue
ao lado da agonia da cútis remendada
rosto liquefazendo-se perfeito
na construção do ídolo vaidoso
como algo a espiralar como coleira
ou encaracolar como surpresa
ou cavalos soltos nas haras
súbitas dos sábados narcísicos: