Quando Narciso olha
seu olhar, nele, vê-se
a si mesmo e a outro
no insucessivo tempo.
Na pupila d’água
seu rosto jaz
já perfeito e desfeito
sem retorno ou alento.
Seu líquido olhar paira
trai no espelho d’água
ele (e outro o mesmo) rosto
que logo se desfaz e fica eterno.
A vital imagem do outro em mim
no texto áquo do rosto Narciso
na água paira como espírito de si
e destroçado ressuscita a página
não mais de água, mas de palavra
a que deve sua intensa eternidade.
Sou o que amo em mim, texto aquático
reflexo do vir, ilusão impassível, sim.
Reflexo do vir, ilusão impassível, sim.
reflexo do vir, ilusão impassível, sim?