Europeus os fundaram (mesmo antes de Deus eram)
embora os pátios assírios fossem assombrosos
e a torre da babel era cercada deles (e poliglotas)
e da Velha Espanha são familiares
(amplos, flamencos, taurinos, mouriscos)
de casa e cozinha mouras íntimos
locais prestos (nunca reles) onde é possível
de olhos nus colher estrelas.
São ruidosos, algo fumacentos, reservados
nervosos e bifurcados os pátios ferroviários
cheios de destinos emplacáveis
sítios onde manobram locomotivas
esses dinossauros mecânicos
essas cascaveis de ferro, centopeias de aço e ruído (pátio alemão)
(laminados ou não, mas vivos, móveis, ferrosos)
túneis de luz viciada em diesel e elétrons
ensopados de óleos cambrianos e fumos sonoros.
desajeitados elefantes compridos conectáveis
que criaram ninho próprio nos vãos trilhentos
trilhados de esteiras duras, estrelas presas
cios ásperos das inoxidáveis vaginas urram
pátio para operações de volta, retorno de
duas cabeças como cobras cilíndricas intensas
para quem por natureza ou determinação
industrial deteste vitais curvas.
Já o átrio (incendiado ou não conforme R. Generoso)
é pátio adolescente, jovem ainda e dourado toiro
recente cheio de pleitos para ampliar o peito
dosar a voz, adensar o músculo (olhar o céu)
e a alma alargar, dilatar data e sítio
ganhar história e substância temporária
além das benesses (e objurgatórias)
dos edis para tornar-se
em definitivo, redundante e completamente
pátios (para sempre) oficiais, turisticais.
Enfim, pátios são vazios velozes
cheios de céus vagarosos (e luas decaídas)
com potenciais multitudinários
úbere de ovações, úteros de vozes tribunícias
palco do delírio político decadente
antros de puros estelionatos eleitorais
(e democráticos).
ADENDO A PÁTIOS
Não vai muito – com nosso voto veemente morto, autoridades constituídas (indevidamente ou não) comecem a desapropriar pátios para erguer edifícios inteligentes e prioritários.
Curiosamente, a forma plural do pátio é o retângulo (quadrado só quando claustro), sendo puros desastres pátios redondos (ou geoidais).
A propósito, o maior teórico – e amante – de pátio latinoamericano é Nelson Saldanha, mas foi Borges quem os eternizou como personagens literários.
Os pátios portenhos, que pisei, têm rumor borgeano, e neles se veem as veias de seus poemas vivos.
Recife, Boa Viagem, 15/16 de abril de 2003
- Os pátios do sonho também são brancos.
Deles, os trens do pesadelo competem com outros
onde pululam os ids.
NOTA: Há mais de dois poemas dedicados ao Pátio de São Pedro.
À memória de Edgar Powell, Vavá do Banguê e Santana, do violão.