24
Qua, Abr

destaques
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

 Europeus os fundaram (mesmo antes de Deus eram)

embora os pátios assírios fossem assombrosos

e a torre da babel era cercada deles (e poliglotas)

e da Velha Espanha são familiares

(amplos, flamencos, taurinos, mouriscos)

de casa e cozinha mouras íntimos

locais prestos (nunca reles) onde é possível

de olhos nus colher estrelas.

 

São ruidosos, algo fumacentos, reservados

nervosos e bifurcados os pátios ferroviários

cheios de destinos emplacáveis

sítios onde manobram locomotivas

esses dinossauros mecânicos

essas cascaveis de ferro, centopeias de aço e ruído (pátio alemão)

(laminados ou não, mas vivos, móveis, ferrosos)

túneis de luz viciada em diesel e elétrons

ensopados de óleos cambrianos e fumos sonoros.

desajeitados elefantes compridos conectáveis

que criaram ninho próprio nos vãos trilhentos

trilhados de esteiras duras, estrelas presas

cios ásperos das inoxidáveis vaginas urram

pátio para operações de volta, retorno de

duas cabeças como cobras cilíndricas intensas

para quem por natureza ou determinação

industrial deteste vitais curvas.

 

Já o átrio (incendiado ou não conforme R. Generoso)

é pátio adolescente, jovem ainda e dourado toiro

recente cheio de pleitos para ampliar o peito

dosar a voz, adensar o músculo (olhar o céu)

e a alma alargar, dilatar data e sítio

ganhar história e substância temporária

além das benesses (e objurgatórias)

dos edis para tornar-se

em definitivo, redundante e completamente

pátios (para sempre) oficiais, turisticais.

 

Enfim, pátios são vazios velozes

cheios de céus vagarosos (e luas decaídas)

com potenciais multitudinários

úbere de ovações, úteros de vozes tribunícias

palco do delírio político decadente

antros de puros estelionatos eleitorais

(e democráticos).

 

ADENDO A PÁTIOS

 

Não vai muito – com nosso voto veemente morto, autoridades constituídas (indevidamente ou não) comecem a desapropriar pátios para erguer edifícios inteligentes e prioritários.

Curiosamente, a forma plural do pátio é o retângulo (quadrado só quando claustro), sendo puros desastres pátios redondos (ou geoidais).

A propósito, o maior teórico – e amante – de pátio latinoamericano é Nelson Saldanha, mas foi Borges quem os eternizou como personagens literários.

            Os pátios portenhos, que pisei, têm rumor borgeano, e neles se veem as veias de seus poemas vivos.

                                                           Recife, Boa Viagem, 15/16 de abril de 2003     

 

  1. Os pátios do sonho também são brancos.

 Deles, os trens do pesadelo competem com outros

onde pululam os ids.

NOTA: Há mais de dois poemas dedicados ao Pátio de São Pedro.

             À memória de Edgar Powell, Vavá do Banguê e Santana, do violão.

Murilo Gun

REVISTAS E JORNAIS