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Qua, Abr

destaques
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(em forma de crônica)

Morri ontem ao raiar do dia

A manhã ainda pássaro fora

Claridade estraçalhando-me lentamente

O sol apenas anunciado por clarões vazios

Eu que nasci num domingo

Dentro do córrego de minha mãe

Ante meu pai extático e a perícia do Tio Emigdio

Obstetra, morri

Em Recife

Não sei quando, como, por quê

Morri na solidão enregelada da metrópole

Anônimo como uma barata melancólica

Sitiado de silêncio árido e flores convulsas

As avenidas me viram morrer

E não sorriram

O enterro, procissão de nervos, prantos, poeira

Suores, rumores de barro e frieiras foi intranquilo e crasso

Ao baixar ao sepulcro senti

Cimentos pesarem em meu rosto

(e o espíirito desvencilhar-se da terrível armadura

da armadilha terrena, tomar ares de pássaro

longe dos reinos subterrâneos)

Dístico servia de marca na lápide de surdo mármore

“não obteve salvação pela poesia, felizmente!”

Murilo Gun

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