Quem – a não ser Holderlin, Rilke e ti
por trás das sílabas prende
o vôo dos fonemas
pássaros inscreve
com solfejos
e aéreos cinzéis
roçando
na pele da vida e toca
o rumor do invisível que perpassa
entre o sono furioso das palavras
e a agonia do verbo criar?
Quem, além deles e de ti, sabe
do prazer do inexprimível
(da exata falta banal de palavras exata
quando circunscreve o infinito
num instante físico do poema
num íntimo esmo
que o acaso dedilha
no teclado da página vazia?
(A aproximação do verbo ao indizível
é qual a de Deus ao rosto do homem
que o misterioso prazer do texto poético presencia)
Quem a alma joga com os dados do corpo
na mesa deserta – e branca – do papel
e o completa do pleno
e do possesso (que é o aberto)?
A quem cabe o êxtase dos horizontes
o rigor cósmico da vida, o melífluo lento
a escória impotente, o dissídio do tempo
o marcessível crisântemo
que rondam as estrelas
essas espantosas abelhas
de brilho, luz trêmula
e fugidio encanto?
A quem cabe o que jaz no coração escuro das galáxias distantes?
(E o que molda o vivo barro das palavras
fonte do inerme e do corpo de Deus)
senão a ti, leitora de Rilke e Holderlin?
Quem deu asas à volúpia de ser
senão eles? (que o arco do abismo contemplam)
e flagram o angelical ainda em potência
com o ato da intuição lírica?