Lágrimas frias descem
como avalanches líquidas
pelas faces seminuas
e solitárias abandonam o rosto
em goteiras e orgasmos
a ouvir o pranto o esgar do ouro
e sua turva do surdo mineral
de através iluminava a dor
que espessa e faz pesar a alma
um grito votivo, o som de alumínio
anúncios de orgia e martírio
desenho de voragem no espírito
esse papel metafísico ainda não escrito
tudo, toda a cal do alicerce
da parede metafórica
e o dedive áspero por onde choro
em cascata ressoava, nada belo
era apenas um rio artificial e sem promessa.
Da manhã ergueu-se sol calcinado
irmão da morte de igrejas sepultadas
como portos sem devoção (e náufragos)
e ouvir a voz das raízes, o nítido
zumbido do id – esse pássaro ínfero
a lua selada, o sal oculto, a força morta
a grama titubeante e o coro surdo, tudo
introduzia ao lixo da alma, o cavalo da ruína
avançava contra as alfândegas da febre
assim, todo o regozijo morto, resta
a pestilência salvífica, o oder podrido resta
resta o ramo seco, a primavera ribanceira abaixo
resta também e a luz do dilúvio
dos mortos obscuros.
Nada, nem mesmo o vazio, a ungir-lhe os corpos.