Não sou poeta por quê? Por ser.
Não sou poeta porque não quero o ser
tal o qual não sou poeta por principio.
Não sou poeta por não prezar o sentido, a sensibilidade, o sentimento
(que acho não serem poéticos) e coisas tais... com as quais
não se é poeta... ou se for poeta, sou outra coisa além...
a linhagem do poder - na acepção
de ideologia dominante que impõe
uma concepção forçada do mundo -
quer tudo dito, bem dito
ditame a ditame, redito, exangue
sentido claro, crível, cru ou não, exposto
etc... ou sem etc.
A prosa é um meio para um fim. Claro.
Ou não. Tanto faz.
A poesia é um fim
qualquer que seja o meio, meio
que não condicione ou objetive tal fim.
Pois, a poesia é um fim infinito, sem finalidade
que a de ser poesia
sem mediação finita, objetual etc.
Se por acaso, o poema fosse um meio
seria um meio sem finalidade nenhuma, portanto.
Um meio interrompido. Mensagem estagnada.
(A propósito, isso é um poema
de quem não é poeta ordinariamente
ou costumeiramente considerado). E
esse parêntese é parte e finalidade do poema.
Tudo o que possa sem configurado
como sentido... não pertence ao poema.
Poema não é pragmático. É poema
Prosa – mesmo em verso
e devidamente versificada
com apuro, pureza, lavor etc –
não é poema não.
Ou, melhor, tudo o que seja explicito
não pode ser poema, embora
formalmente se encaixe nos ditames
imperiais ou autoritários da versificação.
Amara ilusão.
Não emito mensagem, bem que queria
ser prosista poético.
Não carrego mensagem, bem que queria
ser bom carteiro orgulhoso.
Enfim, faço poemas como uma
máquina fotográfica ao acaso faça
retratos de poemas.
ADENDOS
Versos com veludosas vozes não valem.
Indefinições exatas ou não valem
valem ou não? Valem ou sim.
Vezes entrecortadas de emoções
complexas ou não, não...
Lógicas são apoéticas.
Em especial, a metafísica (que
é muito maquinal e bem diurna).
A lógica dialética noturna, essa sim.
A poeta é vedado falar com leitor.
A título ou não de comunicação.
Informação sentimentos, moral total
é invalida, apoética, desprezável.
No entanto, o leitor pode ser ou não
qualquer um que apenas não entenda
pois o desentendimento poético é vital.
O destinatário – que haja – que seja
um qualquer não leitor ainda
e que o acaso faça-o ler...
O poema permanece nas palavras
do poema, não sai delas – nem elas
saem dele. Porém o poema não
é limitado pelas palavras porque ele incorpora
tudo aquilo o que as palavras ainda não disseram.
Pois o poema visa preencher com pássaros
o incontrolável e verdadeiro vazio verbal
informativo em ato pragmático real.
Ou seja, o sentido em falsa suspensão.
Toda gestação poética é verbal (feto de palavras).