Anárquico Narciso acorda
Do sono especulativo!
Não beba com os olhos
As águas narcóticas do eco que multiplica
A imagem nas linhas da diversidade cíclica
Em círculos crescentes concêntricos
A dissolver sonhos e olhares
Como metais de pesadelos
Narciso entorpece a extensão de si
Embota o duplo em outro singular perfeito
Mergulha com seus deuses hipnóticos e fundos
E o fragmentos de Eco não o traz à tona
O rosto repete-se escoa e se quebra
No pranto da ninfa por Narciso morto
Afogado no fluxo de seus próprios ou falsos reflexos.
Narciso não conhece a própria alma
Apenas se apaixona por miragens náufragas
Vindas do corpo de um espelho áquo
Narciso se torna no que (se) contempla
Numa imagem de si ou do outro mesmo
Narciso esteve fora (e dentro) de si e de outrem: o mesmo”.
(Recife, 14 de fevereiro de 2002 – Vital Corrêa de Araújo)