O conhecimento do que virá
será o teu martírio, leitora curial curiosa
a hora não mais chegará a ti
pois não (ou já) desvelaste o maquinismo
da vida que é tempo (de pedra)
sepultado numa ampulheta corrupta
se ao tempo o cronológico
sobrepõe-se o simultâneo
perdeste teu sentido horário
leitora vazia (ou acrônica)
e não passas do mero trânsito.
E alumias escombro
com teu verbo sem fiat
(de luz merencória).
Se tempo é convenção
morte é produto da mente.
Se Kant estuprou camareira (em Konisgberg)
por que Lampe não o denunciou
(brandido o candelabro)?
Passado vive em cada rosto
existe como minucioso trator da cútis
e futuro nunca será promissor
mas estado de perda, dano, medo.
A natureza humana é nossa derrota
(alienada como um anjo ou uma porta).
Vício estrada mais larga
todo salubre mera via estreita
(veia onde pó acampe
vida que desorienta)
dor companheira devota
temor ubíqua presença.
Vida merece ser vívida (não vivida)
morte único endereço certo.
(Entre duas fatais datas
na lápide sulcado nome
leitora impotente
prefiras a última
que definitiva).