Sinto-me causado por elementos sem corpo, ar
de que o devoto e sôfrego fogo necessitar
para fender a pedra chama líquida
varre a terra, desola a alma, figa infinita
- sombra de mostarda fuga para o éden renato
Olho as páginas de um ventre escrito
estrelas entreabertas são os olhos arcanos
aos joelhos das palavras me devoto, acato
o mar estremecendo em minhas mãos escuras
- mapas crivados nas linhas do precipício do rosto
Jardim podado, mudo, perdido
em suas cores fúteis, adjetivas
fúteis adjetivos corroendo o poema
moenda de palavras, pó imagético, acústico
- escanhoando o mundo humano como pilão divino
Vozes podam o íntimo
como se fossem foices instantâneas
punhais transitórios como o dilúvio ou bacias
de esperanças perigosas que nos acossam
- seguindo os instantes chegamos ao impulso (ou impasse)
Percorro o ventre letra a letra com volúpia
e encontro-me nos braços de outra morte
que me lê, verbo terno, ávido, finito
como a fome ou o comício, como a foice ou o ofício
- os matches, as comendas, o intestino acre do triunfo
Tudo o que seja degredo e manhã humilho
acácia e aurora são desperdícios
o nome íntimo da dor é o sacrifício
a verdade fulgura nas bandeiras derrotadas do instinto
- nada mais alimenta o homem do que a palavra imprecisa
de que o espírito se vale para ser indício.