O sal do orvalho, as chuvas do fogo
fugas sobre teclados
lírios que alimentam relâmpagos
pátina que aniquila ouro.
Nutre voo de Ícaro o sonho
(de ser maior que o homem
quase igual a Deus)
a superação de si (da esfera do ar)
o percurso sereno e áspero (de cera
e sonho, de altura e abandono)
a cintilação da estrela do céu oral
o brilho negro da pálpebra
das últimas galáxias.
Dos meandros do mercúrio
das hirsutas violas do enxofre
das veias supremas das retortas
fulge o zênite, o auge fulge, muge
o desejo de ser o todo.
Sete caminhos das estrelas e dúvidas
célicas trilhas, alces, hélices e sais
abrem-se em alvorada secreta
no baldio e desesperado coração humano.
Do pátio de nitrato alastre-se
primavera entre carneiros e dádivas
entre flores circunflexas e alvoradas hispânicas
(rosas retóricas das lapelas barrocas).
Do corpo do verão cevam-se touros
escorpiões bebem seu coração
ávidas víboras preparam bodas
venenosas noites emasculam o espírito
procissões oferecem jovens ao sacrifício
de suas horas, sonhos, esperanças, mitos.
Sagitário irrompe
das dobras de dezembro
dos curvos lençóis e arcos diurnos
símbolos cravam-se na solar túnica.
O arqueiro mira o adepto
retesa o metal primevo
escatológica seta desprende
despe aromas da carne do verão
eleva utensílios a liames
recolhe das taças sem mácula
elixir áureo
o ávido dom da obra doa ao intervalo
ao céu, alvenaria de Deus
arquiteto da viva mansão, oferece
seta que sua sina dispara.