Quanto pó o campanário
sem sino ou osso de som acumula
ao longo de século de orações pendulares?
Quanto resta de sombra
ao pé do hálito da estátua
que o sol escande?
E o ubre rubro da moçoila
de que meus lábios desertaram
que árido e mudo bronze alumia?
E sendas que se negaram a pés
caminhos que ficaram ermos
e rotes agora rotas que procuram o vão?
Azul hoje é vazio
e o rumor deserto como fêmur
e a certeza inimiga da verdade.
Silêncio gotejante, pluviosidade parca
tumulto ínfimo, prodigalidade laica
e o poema arcaico.
Porque pequei
pequei, pequeia
e o dízimo não paguei
a remissão foi suspensa
e vou direto sem escala do purgatório
ao mais profundo inferno.
Esse desgosto sem fim ou rosto
que não é o que sinto ou sonho
é o que o destino escreveu
na biografia do espírito meu.
Sinto grã agonia
ao longo do caminho
que a jornada descortina
começando com desejos
findando com um orgasmo
rota que sigo
na contracorrente da vida.