Meu coração é um rebanho de azaléas
poço de cisnes conflagrados, surda
tundra de ursos arcaicos
bando de musgos, cofre
de unguentos escuros
calabouço de espigas, tâmara
para tua madura mordida
mônada ensandecida
amêndoa nipônica, cereja harmônica.
Meu coração é uma pastagem
de cisnes sublevados, câmara de fúria
istmo de sangue iluminado de linces
périplo de amáveis lírios
tímida conjuração de corças
roda agave, cívica
tulha de pássaros amanhecendo.
Meu coração é uma tarde de ruínas
dadivoso templo de gazelas
dúvida de náilon, bomba de alumínio
trégua sem glória, trama
de rubra mecânica
trigo e sino.
Meu coração é um claustro de desafetos
silo ensandecido
imutável dança de pastores
páramo louco de estrelas
altar deserto
onde tigres de seda copulam
olhando espelhos.
E orquídeas rastejam.
Urna de senhas, catre de sigilos
nele algemas e chaves habitam
e trancado a sete cofres
códigos do amor envilecem
nele secreto sopro da amante jaz
e seu sal lascivo
a tribo de carinhos extinguiu-se
do plástico de suas válvulas
ouço canto trêmulo, sonoro
pedido de socorro
BLEM, BLEM SOS STOP SOS STOP SOS.
Meu coração é um capítulo de flores
novela sem intriga ou meada
cálice de relva o comemora
avaro brinde o adormece.