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Sex, Abr

destaques
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Olho é só reflexo da luz

ilúcida filosofia ótica, usina

de ilusões físicas

turbinas de fantasmas reais.

 

Só no espelho d’água há o real

do poço vem a estrela

(nele ínsita mas impermanente)

leito onde Narciso ama-se

 

o outro mesmo e mata-se

a si mesmo num impiedoso

sopro de volúpia pela imagem

inatingível do outro mesmo (não dele).

 

Onde quando dá-se

irresistível sede de amar(-se)

até a morte

o (a si) mesmo.

 

No peito do jângal

vento rola através dos ramos

relva urra nua (em atavios)

selva verga

galhos tramam

intrincado plasma

vento bole

com copas fortes e pomares

selvagens demoram

a respirar brisa de outrora.

 

Vento voa através dos espessos ramos

de lianas indígenas

e das trêmulas esfinges, das vaginas verdes

das bacias vegetais (do sêmen dos caules) escorre

o sono satisfeito dos cálices.

 

Melodioso mel abelha distila

de sua laboriosa dança de açúcar

balé do primoroso néctar advém

da química secreta e maravilhosa advém

da lida do pólen advém

a vida advém

da geminada geometria advém a vida.

 

Após a cesta dos sons servida em onda

após pássaros que impregnam o verão

de luzes sonoras e macias

circunvoluções no ar nu ginasta

após auréolas e relógios

(pairando no discurso finito)

após a morte do poema...

 

Ainda cheio de gozo entregas

o corpo ao sono de minhas mãos

 

macias como voo de pássaros

impregnados de verão e geometrias.

 

Murilo Gun

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