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Dom, Maio

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 Admmauro Gommes

Aos (im)prováveis leitores de Vital Corrêa de Araújo: 

Espero que vocês comam mais poesia do que rimas, que se alimentem mais de metáforas líquidas que de sólidas imagens e se perturbem com nebulosas figuras, antes de preferirem as construções poéticas que se repetem sem “engenho e arte” desde os anos finais de 1500 de Camões. 

Não procurem a poesia nos lugares prováveis. Nenhum bom detetive busca as pistas no que está patente aos olhos de comuns observadores. Sempre há algo bem escondido e a poesia não está para o explícito. Antes condena as facilidades e os atalhos do entendimento.

Engenho e arte hão de ser coisas complexas e inacessíveis à maioria dos leitores, pois a condição de arte já se ergue como expressão máxima e complexa do ser humano. Por isso, não encontrarão em Vital a mesmice dos caminhos trilhados por milhares de poetas, mas a vereda estranha que não aponta a lugar definido. Para observar os versos triviais que se sustentam nas antíteses do estilo barroco, não há necessidade de um Vital Corrêa de Araújo. Basta alguém ter em mãos um dicionário de antônimos, mostruário de casos corriqueiros de antíteses que não requerem nenhum esforço à inteligência. Lá está tudo arrumadinho (branco/preto, alto/baixo, gordo/magro, céu/inferno, tudo/nada). Vital ignora esta lógica e cria a sequência frasal desnorteante, indigesta, mas profunda e desafiadora ao pensamento mais aguçado.

Ele se afasta da poesia que vem pelas asas da musa. É que o sentimentalismo lhe treme as mãos e somente a visão opaca dos fatos é que pode denunciar na loucura das palavras - como disse Manoel de Barros, - a plena lucidez do poeta.

Murilo Gun

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